3º dia tem debate homoerotismo com o autor de “Me chame pelo seu nome”

3º dia tem debate homoerotismo com o autor de “Me chame pelo seu nome”

O relacionamento gay retratado no livro “Me chame pelo seu nome”, que inspirou o filme de mesmo nome ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado, a sexualidade feminina e a liberdade foram os principais da mesa que juntou os estrangeiros André Aciman e Leïla Slimani nesta sexta-feira (27) na 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

A ideia do encontro, chamado “Interdito” era alegadamente discutir o que o programa chamava “temas tabu”: homoerotismo, desejo da mulher, religião. Este último ficou de fora da pauta, mas os demais não faltaram.

Anciman é um romancista judeu americano nascido no Egito em 1951 mas que mora nos Estados Unidos há muitas décadas.

Leïla Slimani nasceu no Marrocos em 1981 e tem cidania francesa. É autora de “Canção de ninar”, que em 2016 lhe valeu o Goncourt, um dos mais prestigiosos prêmios da literatura da França. A história é bem forte: envolve uma babá de duas crianças que toma uma atitude drástica, absolutamente trágica.

A partir da esquerda: a mediadora Anabela Mota Ribeiro, o escritor André Aciman e a escritora Leïla Slimani na mesa 'Interdito' nesta sexta-feira (27) na Flip 2018 (Foto: Walter Craveiro/Divulgação)
A partir da esquerda: a mediadora Anabela Mota Ribeiro, o escritor André Aciman e a escritora Leïla Slimani na mesa ‘Interdito’ nesta sexta-feira (27) na Flip 2018 (Foto: Walter Craveiro/Divulgação)

‘Leitores gays me agradecem’

“Desde que o livro foi publicado, recebo muitas cartas de leitores que dizem: ‘Tenho 70 ou 80 anos, meu pai nunca teve essa conversa comigo. Teria sido difícil, mas ele deveria ter tido’. Mas também tenho recebido cartas de leitores mais jovens, que dizem: ‘Obrigado, tive coragem de falar com os meus pais – é isso que eu sou'”.

O escritor comentou que a versão para o cinema também fez as pessoas levarem os pais para verem o filme.

“‘Me chame pelo seu nome’ é como o ‘Manifesto Comunista’, de repente todo mundo está lendo (risos).”

Quando alguém da plateia quis saber se Aciman adotou alguma estratégia para tornar a obra acessível a um público fora da comunidade LGBT, o autor respondeu:

“Absolutamente não. Não teve estratégia. Você escreve o que parece mais honesto e sincero possível a você. Quis descrever a vida afetiva interna de um jovem que sente desejo por outra pessoa. Seja homem ou mulher, não significa nada. Neste caso, é um hojem. Há relutância, vergonha, arrependimento, tudo que faz parte de quando sentimos paixão por alguém”.

Aciman completou dizendo não gostar de “ficar usando estereótipos”. Em outro momento, lembrou-se de uma pessoa próxima que já lhe serviu como uma espécie de guia.

“Meu pai me disse uma coisa que nunca vou me esquecer: ‘Nunca tenha vergonha dos seus desejos. A propósito, quando você tira a roupa, tudo é permitido. Quando volta a se vestir, é outra história’. Eu tive sorte, muita sorte, por ter tido um pai com a mente tão aberta em 1968.”

Fonte: Portal G1