“The Tale” | Crítica do novo filme da HBO

“The Tale” | Crítica do novo filme da HBO

The Tale” é um filme árduo, impetuoso, que causa um misto de emoções. Ao terminar de assisti-lo pensei muito em como traduzir em palavras tudo o que foi apresentado, realmente fazer jus o que foi reproduzido, tentar descrever da melhor forma possível a sensibilidade junto a repulsa que ele me causou.

Uma obra aparentemente tão pessoal para a diretora Jennifer Fox, que traz em seu enredo suas lembranças da infância marcadas por eventos assombrosos, que por muito tempo há ela eram apenas recordações pontuais de seu aflorar da pré-adolescência.

Como uma estrutura toda peculiar do como os fatos são contados, intercalando entre o presente, o passado ficcional no qual ela acredita que tenha ocorrido dadas as circunstâncias e passado nítido/real, que ao juntar os fatos e se deparar com a divergência vem seu repúdio.

Laura Dern in The Tale (2018)
A atriz Laura Dern em cena no filme (Divulgação/HBO)

Uma técnica interessante utilizada aconteceu a cada vez que a mesma tenta compreender um fato de grande significância em sua memória, e a própria se questiona, é aberto uma “aba” temporal onde mostra a indagação de Jennifer ao personagem, vinculado a esta lembrança, como num documentário, um interrogatório, os personagens encarando a câmera, uma “Quase Quebra da Quarta Parede”, feito por ela no presente tentando assimilar o que se passava, e o que poderia ser diferente. Estes momentos no filme podem parecer confuso, mas ocorre de forma tão natural, são como observações, indagações da protagonista em seguir com sua percepção.

O filme tem uma atmosfera muito pesada, há cenas em que somos tomados por uma odiosidade tamanha que incomoda os olhos, a sensação de testemunhar toda a atrocidade acompanha um pesar demasiado, e o mais sinistro de tudo é que não há muitas cenas explicitas gratuitas, a “tortura psicológica” do espectador vem por meio de diálogos intensos, palavras usadas cruamente, situações até então sem malícias para a Jenny de 13 anos.

As atrizes Elizabeth Debicki e Isabelle Nélisse em cena no filme (Divulgação/HBO)

Além do explicito tema abuso, o filme entrelaça questões que estão interligadas aos fatos, o descuido/desinteresse da escola (todo o questionamento desencadeia-se como introdução quando a mãe de Jennifer encontra sua redação antiga, descrevendo o fatídico relacionamento que teve aos 13 anos) e o observar mais atento dos pais, (a mesma era a mais velha de quatro irmãos, mesmo estranhando as atitudes sua mãe não buscou a fundo entender o que se passava).

A diretora Jennifer Fox durante as filmagens (Divulgação/HBO)

O filme é um testemunho real de abuso incompreendido pela vítima, um alerta, um mergulho obscuro em memorias, desmistificando o que que efetivamente aconteceu, com o que a mente moldou e transformou em veracidade. Uma desconstrução mental.

Conta com a direção corajosa de Jennifer Fox em escancarar sua história real ao mundo, um excelente trabalho de todo o elenco sem exceções, o filme tem sua estreia marcada para o dia 18 de Agosto às 22h no canal HBO.