Resenha: Bom dia Sr. Mandela – Zelda la Grange

Resenha: Bom dia Sr. Mandela – Zelda la Grange

Bom dia Sr. Mandela, é uma obra de Zelda la Grange, secretária e braço direito de um dos maiores líderes da história da humanidade. Uma vida de dedicação e amor, mas que, ao conhecer sua origem, era um tanto quanto improvável.

Zelda cresceu em meio a população branca da África do Sul, durante o Apartheid, e conviveu diretamente com preconceitos e a segregação racial, apoiada pelo seu povo. Toda essa trajetória começa a ter uma reviravolta, quando ela é convidada para integrar a equipe do novo líder do país, Nelson Mandela, que passou 27 anos de sua vida em uma prisão, por lutar contra o regime segregacionista, e era visto por ela e por sua família, como um inimigo a ser evitado.

Uma biografia, inicialmente, sobre a vida desta mulher de coragem e sinônimo de entrega, mas que traz em suas páginas, traços do perfil de um dos maiores símbolos de humanidade de todos os tempos. Zelda confidencia fatos dos bastidores da vida política e pessoal de Madiba, assim como era conhecido, nos convidando a uma imersão ao lado mais humano deste homem que deixou o seu legado e até hoje é lembrado pela transformação que provocou no seu país e no mundo.

O início da caminhada de Zelda ao lado de Mandela foi sutil. Ela inicialmente entrou para a equipe do governo por sua habilidade de datilógrafa, mas teve logo seu talento percebido por Mandela, que aos poucos foi se aproximando e demonstrando confiança naquela jovem, sem se importar com seu passado ou com as marcas e crenças que ela carregava de sua infância e juventude de preconceito e ódio pelo povo negro da África do Sul.

A vida dos dois simboliza claramente o momento de retomada que foi o governo de Nelson Mandela, em que, mesmo com todos os reflexos de anos de divisão, aproximou um povo separado simplesmente pela cor da pele, unindo brancos e negros, fazendo com que fosse fortalecido um único povo, o da África do Sul.

Neste relato intenso e íntimo, é possível conhecer toda a simplicidade da vida de Mandela que, mesmo cercado de pessoas influentes e poderosas, nunca deixou mudar seu coração de bondade e respeito, sendo reconhecido até hoje por sua humanidade e por uma alma pura, entregando a sua vida pelo próximo, pelas pessoas que mais precisavam de amparo e ajuda. E muito dessa imagem, das obras e relacionamentos que foram construídos por ele durante sua vida, foram reconhecidas graças às mãos de Zelda, que o acompanhava em todos os momentos, deixando a sua vida de lado para viver a vida de Mandela, movida por um amor e companheirismo incomparável.

Existe um diálogo que marca o início e fim do livro, em que Mandela revela ter tido um sonho, em que “Zeldina”, assim como ela era chamada carinhosamente por ele, o abandona: “Sonhei que você havia me deixado, que você havia desertado…”. A afirmação logo é repreendida e negada por ela: “Khulu, eu jamais faria uma coisa dessas. Por favor, nunca mais pense nisso. Posso lhe assegurar que jamais o abandonarei”. E assim foi, Zeldina nunca abandonou Khulu (avô).

Muito mais do que um cargo ou uma função, Zelda foi uma protetora, uma organizadora da vida de Mandela, que mesmo após o término de seu mandato, não abandonou o seu único e verdadeiro amigo, o acompanhando durante sua doença e mesmo após o seu falecimento. Como mencionado no começo deste texto, essa é uma história de entrega, de amor, fidelidade e coragem, que transformou a vida da autora, de Mandela e de milhões de pessoas pelo mundo!

Joel Prado