“Hafis & Mara” | Entrevista com o cineasta Mano Khalil

“Hafis & Mara” | Entrevista com o cineasta Mano Khalil

Participamos da abertura da 7ª edição do Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo realizada no Cine Sesc de São Paulo e que segue até o dia 21 de maio.

Na oportunidade, conversamos com o cineasta sírio Mano Khalil, diretor de “Hafis & Mara”, filme de abertura do Panorama. O filme conta a história dos últimos anos de um casal: o artista suíço-libanês Hafis Bertschinger e Mara, sua fiel esposa e patrona. A obra foca não só o artista, mas a tranquila Mara, refúgio seguro de Hafis e quem tornou seus voos artísticos possíveis.

O nosso colaborador Bruno Martuci teve a oportunidade de conversar com o diretor sírio que falou um pouco da obra. Acompanhe o bate papo com o cineasta:

Bruno Martuci: Deixar seus sonhos loucos te guiar, não importando a idade e limitações. Essa é a principal mensagem de “Hafis & Mara”?

Mano Khalil: Então para mim o importante nesse filme é mostrar a vida desse casal que vive junto em respeito, um respeitando o outro. E é um respeito muito grande entre eles principalmente da sua esposa que ficou com ele por 53 anos, mesmo sem ele trazer dinheiro para casa, mas ela ficou lá do lado dele dando suporte, apoiando a arte dele, e principalmente o amando até o fim da vida dela. Isso é muito bonito, muito precioso e mesmo ela sabendo que ele tinha seu lado gay, mesmo assim ela esteve lá do lado dele respeitando, o amando e tiveram essa vida juntos então é muito bonito esse respeito.
E também fala sobre o que a gente deixa na vida, muito de deixar a arte de se despedir, o que na vida quando você se despede. Então ele deixou isso tarde e ela deixou esse apoio para ele poder fazer a arte dele, nesse sentido no que você deixa pra trás na vida.
Bruno Martuci: No seu documentário você muda alguns planos convencionais do gênero em relação a enquadramentos, usando alguns livres e mais fechados. Essa mudança foi para destacar esse lado emocional da produção?

Mano Khalil: Quando eu comecei a estudar cinema, que eu sou da Síria e eu fui estudar cinema na Checoslováquia. Eu fiz especialização em direção de cinema de ficção e eu sempre gostei de filmar as pessoas, tanto personagem principal, quando através do documentário pelos meus olhos. Então eu tento ser os olhos do público, ao invés de eu deixar um plano aberto para o público escolher onde vai olhar na tela, eu faço um plano mais fechado, mesmo quando o Hafis está falando, então eu quero mostrar a reação da Mara, ou então a Mara está falando alguma coisa, e então eu quero que mostre tal coisa, então eu mesmo vou lá e mostro onde eu quero que o público olhe. Eu gosto muito de eu mesmo fazer a câmera por causa disso, de eu ficar amigo do personagem e para eu mostrar para onde o público vai olhar.
E quando eu faço um documentário, eu nunca tenho uma data para começar e uma data para terminar, não, eu começo, por exemplo, a filmar em maio e vou filmando até que o filme esteja pronto. Eu vou sentindo quando que vai acontecer, então eu gosto quando fica essa ambiguidade em que até que ponto é a ficção, até que ponto é documentário, de brincar ali uma coisa com a outra, de jogar.

 

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Cena do documentário “Hafis & Mara” (Divulgação)

 

Bruno Martuci: Qual a sua expectativa para a recepção do público brasileiro em relação à Hafis e Mara?

Mano Khalil: Eu espero que o público do Brasil goste do filme, é claro, mas o principal é que eu espero que o público entenda esse sentimento, que o principal que eu quero passar é o sentimento. Então eu estou mostrando ali aquele casal vivendo junto em respeito vivendo junto se respeitando, e se despedindo da vida, mas eu queria que passasse esse sentimento, e não que virasse uma tragédia, um filme triste porque está mostrando um casal que se despede da vida, então esse lance do artista que os artistas principalmente têm isso de querer fazer alguma coisa deixar algo para trás, como se fosse uma marca no mundo, poetas, pintores, etc. E aí parece que na hora de partir, conforme vai ficando velho, vendo que a morte está se aproximando, é como se virar o espelho para si mesmo, de você se olhar, de você quando chega ao fim da vida que você começa mais a perceber, como é que foi, o que é que eu fiz, o que eu deixei para trás. E que essa é uma história, esse sentimento é comum a todos os humanos, não é um filme suíço, poderia muito bem se passar no Brasil, ou na Síria, ou em qualquer lugar. E o que eu faço é isso, de contar a história e mostrar esses sentimentos.
Nem todo mundo é um Fellini, um Picasso, um Spielberg, que vai ficar famoso, não, que existem muitos outros artistas que estão fazendo a arte deles e nem por isso são menos importantes, eles fazem. Não ficam famosos quando eles partem, mas fizeram uma arte, e isso é importante também, então não é só sobre isso, não é só sobre ficar famoso é sobre fazer a sua arte.

 

Bruno Martuci: O que você já assistiu do cinema brasileiro? E o que você gostou e chamou sua atenção?

Mano Khalil: Sim eu conheço o cinema brasileiro. Esse momento não sou capaz de falar ou citar algum filme específico, mas sim eu já vi. Geralmente quando eu vou a festivais de cinema pelo mundo, eu não vou para assistir cinema americano, porque filme americano consigo ver em qualquer lugar. Eu prefiro justamente pegar filmes de outros países que eu não conseguia ter acesso tão fácil, e que hoje mesmo quando eu estava chegando no aeroporto, o motorista que foi me buscar, estávamos conversando sobre a indústria cinematográfica do Brasil, e aí o motorista falou para mim que 10% é filme brasileiro e 90% é filme estrangeiro tipo americano, mas que isso está aumentando e eu fico feliz de saber que a indústria cinematográfica aqui do Brasil já é grande é importante e eu fico feliz que está crescendo ainda mais.
Ele nos deixou um recado final:

SERVIÇO | 7º PANORAMA DO CINEMA SUIÇO CONTEMPORÂNEO

>> CineSESC
De 09 a 16 de maio.

Rua Augusta, 2075 | CEP.: 01413-000 | Cerqueira César.
Tel.: (11) 3087 0500.
Site Oficial: https://www.sescsp.org.br.
Lugares: 273 lugares.
Ingressos: R$12 (inteira), R$6 (meia), R$3,50 (credencial plena SESC).

Ingressos à venda nas Unidades do Sesc e no Portal: www.sescsp.org.br.