“Socorro, virei uma garota!” | Crítica
“Socorro, virei uma garota!” não é um filme nada inovador, mas sim uma colagem de diversos outros títulos sobre pessoas trocando de corpos – seja pai com filho, mãe com filha, adulto com seu eu-jovem, criança com peixe – a infinidade de exemplares do gênero parece não ter fim.
É assustadora a falta de criatividade nos infindáveis 110 minutos do longa protagonizado por That iLopes e dirigido por Leandro Neri. Trinta segundos: Este foi o tempo que precisei para concluir que “Socorro, Virei Uma Garota!” certamente seria um dos piores filmes de 2019.
Escrito por Paulo Cursino, o longa nos traz a vida de Júlio, um garoto tímido, que conta com uma única companhia: a de seu melhor amigo, Cabeça. Após viajar para Búzios e ser humilhado diante dos amigos colégio, Júlio se encontra diante de uma chuva de meteoros e resolve fazer um desejo – o de se tornar a pessoa mais hype da escola. O que ele não imaginava, era que o pedido fosse atendido, acordando no dia seguinte no corpo de Júlia, a menina mais amada do colégio.
A partir disso, o filme se resume a uma sequência de situações que mostram a protagonista lidando com sua nova vida. E da maneira mais chata possível, “Socorro, Virei Uma Garota!” não apresenta nenhuma coesão cinematográfica: os primeiros 15 minutos nos apresentam a Júlio; em seguida, quando o protagonista acorda transformado em garota, o foco da história passa a ser o esforço de Júlia para tentar voltar ao mundo “real”; depois disso, o longa começa a inventar inúmeras situações aleatórias que não chegam a lugar algum, como a primeira briga entre Júlia e Cabeça, o concurso de Matemática, a paixão por uma amiga da escola e por aí vai ladeira abaixo.
Mas o pior chega nos últimos cinco minutos de projeção, quando uma personagem nova é introduzida de última hora e tenta criar um drama. Como se não bastasse, o roteiro falha em todas as piadas que tenta fazer e ainda comete o erro de explicar para o espectador, através de diálogos dolorosamente expositivos, o sentido de cada uma destas piadas, apelando para frases óbvias e repetitivas.
O filme ainda se vende como uma obra pró-direitos LGBTs, porém demonstra uma postura homofóbica em diversos pontos da narrativa.
“Socorro, Virei Uma Garota!” é uma comédia vergonhosa que se julga desconstruída. Thati Lopes (a Júlia), que co-protagoniza o filme ao lado de Victor Lamoglia (o Júlio), é uma atriz com consciência humorística que poderia funcionar em um projeto melhor. O problema, portanto, é que o longa em questão acaba desperdiçando o potencial da atriz.
Incapaz de provocar risos ao longo de seus 110 minutos de duração, “Socorro, Virei Uma Garota!” ainda comete o erro de ser muito, mas muito mais longo do que precisava.