Sérgio Mamberti estreia novo espetáculo no Sesc Santo Amaro
A função do Sonderkommando ou comandos especiais, unidades de trabalho formadas por prisioneiros selecionados para trabalhar nas câmaras de gás e nos crematórios dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, inspira “O Ovo de Ouro“, com texto de Luccas Papp e direção de Ricardo Grasson.
A peça, que conta com Sérgio Mamberti e Leonardo Miggiorin no elenco, estreia no dia 21 de novembro, no Sesc Santo Amaro, onde segue em cartaz até 15 de dezembro.
Obrigados a tomar as atitudes mais atrozes para acelerar a máquina da morte nazista, esses prisioneiros conduziam outros judeus à câmara de gás, queimavam os corpos e ocultavam as provas do Holocausto. Quem se recusava a desempenhar esse papel era morto, quem não conseguia mais desempenhar a função, era exterminado com os demais.
“Ovo de Ouro surge da minha necessidade de não deixar morrer esse pedaço tão importante da História que é a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o Holocausto. A ideia de escrever a peça surgiu em 2014, quando eu fui apresentado ao universo do Sonderkommando por meio de um pequeno artigo em uma revista. Essa figura do judeu que tem que auxiliar com o extermínio do próprio povo mexeu muito comigo e minha noção de humanidade, e me incentivou a tentar entender por que eles faziam isso, por que eles não se recusavam. Com este espetáculo temos a oportunidade de falar sobre Segunda Guerra sob o ponto de vista dessa figura pouco conhecida”, explica Luccas Papp.
Contada em diferentes episódios e tempos, a trama revela a vida de Dasco Nagy (Sérgio Mamberti), que foi Sonderkommando e sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Em cena, dois planos são apresentados – a realidade e a alucinação – para retratar a relação do protagonista Dasco Nagy quando jovem (Luccas Papp) com seu melhor amigo Sándor (Leonardo Miggiorin), com a prisioneira Judit (Rita Batata) e com o comandante alemão Weber (Ando Camargo). No presente, Dasco é entrevistado, já em idade avançada, por uma jornalista, narrando os acontecimentos mais horrorosos que viveu no campo de concentração e descrevendo a partir do seu ponto de vista os horrores e tristezas da Segunda Guerra Mundial.
O papel de Dasco é dividido pelos atores Sérgio Mamberti, que dá vida ao personagem no tempo presente/alucinação, e Luccas Papp, que o interpreta no passado/realidade, no plano da memória. “Talvez este seja um dos personagens mais desafiadores na minha carreira por uma série de fatores. Um deles é por representar o mesmo personagem que Sérgio Mamberti, o que é uma honra e uma responsabilidade muito grande. Segundo, é que ele é um sonderkommando vivendo situações de caráter tão absurdo. Eu preciso fazer com que o público acredite na realidade do que acontecia nos campos de concentração. Tenho que trabalhar com elementos obscuros no meu interior para trazer veracidade para essas situações. E como a peça é feita em ordem não cronológica – são nove cenas divididas entre passado e futuro – tenho que organizar minha cabeça para conseguir colocar a emoção certa na hora certa”, esclarece o ator e dramaturgo.
A dualidade interna entre ser obrigado a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo e o medo da morte transforma o Sonderkommando em um complexo personagem a ser debatido. Nesse contexto são muitas as questões discutidas, desde o significado real de humanidade, o medo da morte, os limites da mente e da alma humana e a perda da própria identidade.
A dramaturgia foi inspirada em uma pesquisa sobre obras que discutiam os temas do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial. Entre elas, destacam-se os livros Sonderkomamando: No Inferno das Câmaras de Gás, de Shlomo Venezia, e Depois de Auschwitz, de Eva Schloss; e o filme O Filho de Saul, de László Nemes, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2016.
A encenação
A encenação tem como inspiração e referência, a sétima arte, em todos os seus desdobramentos, nuances e dezenas de relatos deixados pelos sobreviventes dos campos de extermínio. “Apontamos no tempo presente, o encontro entre a jornalista e o sobrevivente, de forma fantasmagórica, alucinógena, imprimindo uma atmosfera vibratória, de vida pulsante às cenas e aos personagens. Quando nos transportamos, ilusoriamente, ao campo de concentração, ao passado concreto, vivido pelos personagens apontamos uma atmosfera fria, enclausurada, suspensa e sem vida, que nos conduz imageticamente àquelas sensações de crueldade. Luz, som, cenografia e figurino conversam com essa estética e nos conduzem à proposta de encenação. A ideia é fazer com que as sensações criadas por estes elementos no espaço cênico atinjam o espectador de maneira intensa. Como encenador, entendo que a cenografia, o figurino, a iluminação, a trilha sonora não são panos de fundo ou cama para um espetáculo, juntos eles atuam concretamente fusos ao texto, formando assim uma narrativa dramatúrgica única”, revela o diretor Ricardo Grasson.
Para que não se repita
“Em tempos de pouco diálogo, imposição de ideias e ideologias, censura e extremismos é fundamental debatermos esses temas tão duros e atrozes para que os erros que provocaram tanto sofrimento no passado não se repitam. É necessário e quase que um dever recordarmos as atrocidades do holocausto nazista, para que a história vivida no final dos anos trinta e início dos quarenta, não volte a nos assombrar. Para que as novas gerações, não testemunhas deste período da história, saibam o que aconteceu e onde a intolerância pode nos conduzir. Auschwitz e outras tristes lembranças do holocausto, podem até escapar da memória, mas jamais deixarão os corações de quem viveu a tragédia, especialmente de quem se atribui a responsabilidade de manter viva, por gerações, as imagens da perversidade humana. Uma das formas de evitar a repetição de tais tragédias coletivas é recordá-la, para que não ressurjam no horizonte, sinais do restabelecimento de ódios raciais, extremismos comportamentais e ideologias sectárias, formando o caldo cultural do qual o nazismo se alimentou e cresceu”, completa Ricardo Grasson.
… É fácil esquecer para quem tem memória; difícil esquecer para quem tem coração”…
Gabriel Garcia Marques
SERVIÇO
ESPETÁCULO: O OVO DE OURO
Quando: de 21/11 a 15/12
Horário: Quinta e Sexta ,21h. Sábado, 20h; domingos, às 18h.
Local: Teatro (1º andar | 279 lugares)
Classificação: 14 anos.
Duração: 90 minutos.
Ingressos: R$ 30,00 (inteira). R$ 15,00 (estudantes, +60 anos e aposentados, pessoas com deficiência e servidores da escola pública). R$ 9,00 (Credencial Plena válida: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciados no Sesc e dependentes).
Vendas a partir de 12 de novembro (online) e 13 de novembro nas bilheterias do Sesc.
SESC SANTO AMARO
Endereço: Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro
Acessibilidade: universal.
Horário de funcionamento da Unidade e bilheteria: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Estacionamento da unidade: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional (Credencial Plena); R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional (outros).
Disponibilidade: 158 vagas para carros e 36 para motos. A unidade possui bicicletário gratuito.