“Retablo” | Crítica
Representante do Peru a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020 e grande destaque na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme “Retablo“, é o primeiro trabalho do diretor e roteirista Alvaro Delgado Aparicio. O cineasta entrega uma obra complexa e repleta de camadas.
O longa gira em torno de Segundo Paucar (Junior Bejar), um garoto de apenas 14 anos que ajuda o pai, Noé Paucar (Amiel Cayo), na confecção de retábulos, que são caixas/altares artesanais que registram cenas religiosas e retratos familiares.
O pai é um artesão bem conhecido no pequeno vilarejo e tenta passar os ensinamentos para o filho. O jovem, demonstra grande admiração pelo pai e sua obra. Mas tudo muda quando ele descobre que seu pai tem um grande segredo.
“Retablo” é um filme sobre a relação entre pai e filho. É um filme sobre a idealização de uma figura e sobre a quebra de uma imagem perfeita.
O enredo se passa numa região afastada no Peru, um local distante da civilização, em que os costumes parecem valer muito e a força da sociedade patriarcal ainda se faz muito presente, tanto em atos de violência quanto na visão da mulher em um segundo plano das principais decisões.
É meio complicado entrar em alguns detalhes sem prejudicar a experiência do espectador, mas é interessante a forma como a obra usa os tais retábulos como metáforas explícitas daquela frágil sociedade. Embora não seja o fator principal do roteiro, é interessante e as vezes assustador como a religião é um elemento que se faz presente a todo momento ali.
O personagem Noé (Amiel Cayo) entrega uma performance dura, mas repleta de sentimentos. Pode parecer meio paradoxal, mas a verdade é que Noé é um sujeito que possui um grande segredo e isso o deixa travado perante a sociedade que vive. Ainda assim, demonstra, a seu modo, um carinho pelo filho e um grande orgulho pela profissão. Mesmo com um orçamento bem baixo a obra conseguiu apresentar uma obra bem suntuosa.
Com belos cenários e figurinos, “Retablo” traz também um belíssimo design de produção que faz justiça aos artesãos retratados.
A obra faz uma celebração à arte e ao artesanato em um filme que diz muito e que vai se comunicar de diversas formas com cada pessoa.