Resenha: Vidas Secas, Graciliano Ramos
Hoje vamos falar sobre mais um clássico da literatura nacional, talvez um dos títulos mais marcantes e constantemente presentes nas provas de vestibular. Estamos falando de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Essa obra que pertence a segunda fase do modernismo traz, apesar da linguagem simples, uma grande sensibilidade e crítica social, por meio de uma história fragmentada e com capítulos independentes.
O livro que foi publicado pela primeira vez em 1938, contém aproximadamente 180 páginas, e entrega uma leitura árida e seca, condizendo com o clima relatado na história. O romance tem como tema central, a dura vida no sertão nordestino, e destaca uma família de retirantes, que sai do seu local de origem em busca da sobrevivência diante do flagelo da estiagem. A família é formada pelos personagens Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais Velho, Menino mais Novo, a cachorra Baleia e o papagaio.
A narrativa acontece toda em terceira pessoa, com um enredo mais monótono e sofrido, mas não como ponto negativo da redação, e sim pela triste realidade dessa família e do ambiente em que vivem, que além da pobreza intensa, enfrenta também a opressão dos oligarcas, retratada no livro com os personagens: soldado amarelo, o fiscal da prefeitura e o dono da fazenda.
Já no primeiro capítulo a família é obrigada a comer o papagaio para sobreviver à fome, isso antes de Fabiano encontrar o dono da fazenda, onde vai trabalhar, é explorado diante da sua ignorância e acaba até preso. Apesar da falta de perspectiva dos miseráveis protagonistas, a construção dos personagens relata além dos medos e fraqueza, os seus sonhos, como o de Sinhá Vitória, que desejava ter uma cama de couro como a do Senhor Tomás da Bolandeira.
Outro personagem de destaque do livro é a cachorra Baleia, que enquanto os demais membros da família são tratados como animais, a cachorra é descrita de forma mais humanizada. Ela inclusive marca um dos pontos fortes e emocionantes do livro, quando é preciso sacrificá-la devido a uma doença.
A vida dos retirantes segue um ritmo repetitivo, abordando cada personagem com suas histórias individuais, sempre com uma forte crítica social e política, perante as desigualdades vividas na época e ainda presentes hoje. E esse é um dos fatos que faz o livro continuar sendo atual, as injustiças sofridas pelo povo mais simples diante de todo o sistema, que oprime e marginaliza a população mais pobre.
Apesar de ser um clássico da literatura, a forma da escrita pode não agradar aos leitores de romances mais tradicionais, já que a história não segue uma narrativa linear e convencional, justamente para mostrar a quem lê a dificuldade dos personagens e gerar assim um incômodo com tudo o que é abordado. Até mesmo sua linguagem mais seca, faz com que a pessoa que lê não se envolva emocionalmente com os personagens, como acontece na maioria dos livros, fato intencional para dar mais destaque aos introspectivos personagens, que vivem algo muito distante do que qualquer um de nós viveu.
Um livro de extrema relevância para a literatura brasileira e que deve ser consumido de forma consciente e crítica, em que o autor, de forma intencional, consegue fazer com que os personagens principais, não sejam grandes protagonistas, mas sim figurantes de todo contexto abordado, deixando a crítica social como um ponto forte e extremamente necessário para quem lê.
Vidas Secas – Capítulos:
O livro é dividido em 13 capítulos, sendo:
Capítulo 1 – Mudança
Capítulo 2 – Fabiano
Capítulo 3 – Cadeia
Capítulo 4 – Sinhá Vitória
Capítulo 5 – O Menino Mais Novo
Capítulo 6 – O Menino Mais Velho
Capítulo 7 – Inverno
Capítulo 8 – Festa
Capítulo 9 – Baleia
Capítulo 10 – Contas
Capítulo 11 – Soldado Amarelo
Capítulo 12 – Mundo coberto de penas
Capítulo 13 – Fuga
Os capítulos do livro são considerados autônomos, e podem ser lidos de forma separada, com exceção do primeiro e do último, que introduzem e encerram a narrativa dessa história.
Biografia de Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira, nascido em 27 de outubro de 1892 e falecido em 20 de março de 1953, foi um dos maiores escritores da literatura brasileiras, que se destacou como romancista, cronista, contista, e também como jornalista e político. Sua obra mais famosa é justamente Vidas Secas, publicada em 1938.
Nascido no nordeste do Brasil, o escritor é filho de uma família de classe média, que trabalhou como jornalista no Rio de Janeiro, e após uma tragédia na família, voltou ao nordeste, onde se tornou prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, e também se casou e teve oito filhos.
Durante a década de 1930, Graciliano morou em Maceió, onde trabalhou na Imprensa Oficial, local em que também foi preso acusado de ser militante comunista. Em 1940 se tornou membro do Partido Comunista Brasileiro, ao lado de Luís Carlos Prestes.
O autor morreu no dia 20 de março de 1953, aos 60 anos, no Rio de Janeiro. E até hoje o seu livro “Vidas Secas” é visto como uma das maiores obras primas da literatura nacional.
Principais livros de Graciliano Ramos:
– Angústia;
– Vidas Secas;
– Memórias do Cárcere;
– São Bernardo;
– Brandão entre o Mar e o Amor;
– Infância;
– Histórias incompletas;
– A Terra dos Meninos Pelados;
– Histórias de Alexandre;
– Insônia.
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