“Parasita” | Crítica
“Parasita” mostra uma das melhores lutas de classe já vistas no cinema com humor e acidez.
Vencedor da Palma de Ouro e destaque na 43º Mostra internacional de cinema de São Paulo, “Parasita” é um dos filmes mais aclamados do ano. Essa obra, dirigida pelo conceituado cineasta Joon-ho Bong (conhecido pelo espetacular “O Hospedeiro” de 2006), é repleta de altos e baixos coloca em cheque o mal funcionamento do capitalismo mundial.
Quando acontecia o Festival de Cannes em maio, “Parasita” sempre era o filme pontuado na lista dos melhores da competição. Não foi grande surpresa quando ele se tornou o primeiro coreano a vencer a Palma de Ouro com o prêmio de “Melhor Filme” do festival, e já abrindo alas para o Oscar 2020 de “Melhor Filme Internacional”.
“Parasita” disserta a história da família Kim: o pai, Kim Ki-taek (Song Kang-ho), a mãe, Kim Chung-sook (Hye-jin Jang), o filho, Kim Ki-woo (Choi Woo-shik) e a filha, Kim Ki-jung (Park So-dam). A família mora em um minúsculo apartamento quase no subsolo e vivem em um nível de pobreza extremo, dobrando caixas de pizza para sobreviver.
Uma oportunidade brilhante surge quando Ki-woo (Choi Woo-shik) é convidado para ser professor de inglês em uma luxuosa mansão. A riquíssima família possui a mesma configuração: o pai,, Park Dong-ik (Sun-kyun Lee), a mãe, Yeon-kyo (Cho Yeo-jeong), a filha, Park Da-hye (Jeong Ji-so) e o caçula, Park Da-song (Hyun-jun Jung).
Os inúmeros metros quadrados da propriedade rapidamente viram um terreno fértil para a ascensão social da família mais humilde.
A narrativa do filme é uma montanha-russa: o início é muito lento. A pegada de comédia está explicito, com sequências que em nada acrescentam na obra. Quando o espectador entra na mansão dos Park, o drama ganha mais sentido pelas questões apresentadas, mais ainda não funciona.
O mood principal de “Parasita” é uma família se aproveitando de situações para uma possível ascensão econômica, contudo, o filme expõe um lado que não representa um consenso ou uma ideia coletiva com as desigualdades do povo japonês.
A obra só flui porque é uma crítica direta ao capitalismo. Talvez a ideia central do filme não esteja impressa em nossas cabeças porque, ao pensarmos no eixo Coreia/Japão, imediatamente vislumbramos tecnologias e avanços, realidades que não concretamente partilhadas entre seus cidadãos. É difícil imaginar que estes países possam ser tão desiguais.
Em inúmeros momentos é fácil enxergar a mesma história se repetindo aqui no Brasil, o filme possui diversas universalidades, o que consegue exportar sua história para todos os cantos do planeta.
É complicado falar de “Parasita” e não estragar a ansiedade de quem ainda não viu, a obra é um filme de sensações – e elas são fartas e variadas. Você vai do êxtase ao choque.
O filme renderia uma extensa análise ao que cita as impressões de desigualdade social. Aliás, esse tema é central na filmografia do diretor em todos os seus filmes.
O obscuro vai nos engolindo de forma mais profunda nos meandros das duas famílias, duas configurações tão parecidas mas tão opostas ao mesmo tempo.
A fotografia também evidencia as subidas e descidas de uma obra rica em metáforas visuais e junções capitalistas, quando a periferia mora em um nível muito abaixo das camadas mais abastadas a chuva escorre pelas mansões.
“Parasita” é um dos principais filmes de 2019. Com um malabarismo de gêneros, o filme enfia a faca em um sistema que fundamentalmente existe tirando a dignidade do ser humano, predestinado a cometer ações terminais que comprovam o insucesso da separação entre burguesia e marginalizados.
A obra é talvez a melhor luta de classe que tivemos no cinema nessa década até o momento.
Com distribuição aqui no Brasil pela Pandora Filmes, a previsão é que ele chegue aos cinemas no dia 7 de novembro. O filme é o indicado da Coréia Do Sul para concorrer a uma das vagas no Oscar 2020 na categoria “Melhor Filme Internacional”.