Os Últimos Dias de Gilda | Crítica

Os Últimos Dias de Gilda | Crítica

Estreia hoje (27), às 22h30, a nova série original do Canal Brasil, “Os Últimos Dias de Gilda”, criada e dirigida por Gustavo Pizzi e protagonizada por Karine Teles e Julia Stockler. A produção também estará disponível, a partir de hoje, nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay.

Assistimos a série com exclusividade, cedida aos Geeks pelo Canal Brasil, e em seguida diremos o que achamos.

A série “Os Últimos Dias de Gilda” acompanha Gilda (Karine Teles) moradora de um bairro pobre tomado por conflitos de religião e estilos de vida no Rio de Janeiro. A personagem é julgada e, algumas vezes, oprimida pelos seus vizinhos por ter múltiplos relacionamentos amorosos (às vezes ao mesmo tempo) e ser praticante da umbanda. Tal contexto representa muito bem o momento que a sociedade brasileira se encontra hoje em dia: dividida.

A palavra que define a série é tensão. Existe uma tensão sempre crescente e muito bem construída entre os personagens que tem suas origens nas diferenças religiosas da comunidade. Um desentendimento começa na discussão e escala para vandalismo e violência quando candidatos a vereador e membros de uma milícia local se envolvem. Além disso, há a preocupação que o próprio nome da série planta na mente do espectador, que fica sempre atento a uma possível tragédia à espreita.

A discussão que os conflitos entre os vizinhos trazem é muito interessante e necessária: a hipocrisia e crueldade de parte da sociedade brasileira que exclui, destrata e machuca aqueles que são, na visão deles, pecadores. Incita reflexões sobre preconceito religioso, tolerância, monogamia, comunidade e o que realmente significa “proteger a família brasileira”, tópicos que são centrais para a divisão que sentimos na sociedade brasileira.

Além da relevância atual e importância dos temas tratados, os episódios são dirigidos e editados de uma maneira instigante adicionando camadas de interpretação e ajudando a digerir a conversa sobre o Brasil que está sendo feita na tela. Os personagens são palpáveis e os detalhes da produção são feitos com muito carinho, a ponto de parecer que aquele bairro existe exatamente daquela forma (se não existe mesmo): na louça na casa de Gilda e nas roupas, acessórios e diálogos realistas, por exemplo. O grau de proximidade que os personagens têm do real não só mostra a complexidade das atuações como também ajuda o espectador a refletir sobre os acontecimentos e temas da série.

Assim, “Os Últimos Dias de Gilda” é uma ótima pedida pra quem quer apoiar produções nacionais de qualidade. Ela mostra o quanto somos rápidos em julgar e demonizar o próximo ao invés de entender e aceitar. Faz um retrato de quem somos e de quem não queremos ser. Merece toda a atenção que conseguir e mais um pouco.