“O Escândalo” | Crítica
Histórias sobre assédio e reflexos do movimento #MeToo estão atingindo cada dia mais os roteiros de Hollywood. A devastadora polêmica envolvendo os bastidores da emissora Fox News, em 2016, jamais poderia ficar de fora; já que o longa tenta explicar a essência do movimento e as razões para ser tão necessário.
“O Escândalo” (“Bombshell“) é uma obra biográfica, que mistura drama com comédia, para retratar todos os detalhes que levaram ao caos na emissora, após o CEO Roger Ailes (John Lithgow), ter sido acusado de assédio sexual no ambiente de trabalho por diversas mulheres.
A narrativa do filme é bem interessante e trata o projeto como um documentário. Até a estética da direção preserva essa proposta jornalistica.
A câmera é perfeita e dá diversos zoom durante o plano, algo que certamente só funciona nesse tipo de projeto. Porém, é no desenrolar desse roteiro que mora alguns problemas. Apesar da forte carga feminista no filme, o que não poderia ser diferente, a voz das mulheres é ironicamente afogada por uma trama que mais privilegia explorar os absurdos da situação do que, de fato, mostrar suas piores consequências.
O tom de comédia até pode arrancar algumas risadas, mas é inconveniente como toda a história. Mesmo que já tenha mostrado trabalhos mais intensos, o diretor Jay Roach, por ser um homem, talvez não compreenda a delicadeza de algumas situações e acabou exibindo demais as atrizes em cenas que poderiam ficar no subentendido.
Quero deixar claro! Que não é machismo que estou citando aqui e sim uma opinião de quem acha que este projeto funcionaria melhor caso fosse comandado por uma mulher, por motivos óbvios.
Apesar de esbanjar sonoridade na divulgação, a trama não se aprofunda e nem desenvolve a união entre as personagens, que dividem poucas cenas juntas. O roteiro tenta, por diversas vezes, reformar algumas rivalidades, mas acaba pesando negativamente para lados que não deveria.
Na obra existem qualidades inegáveis, porém, a falta de atuação e envolvimento do elenco deixou muito a desejar.
Ter Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie como protagonistas de um vasto elenco é no minimo esperar um espetáculo de atuação.
Charlize Theron não está fantástica em seu papel como o de costume. Margot Robbie não surpreende e nem rouba a cena por ser uma personagem criada para mostrar o assédio de forma visual. Nicole Kidman acaba sendo ofuscada e não faz mais do que o convencional.
Outro detalhe profundamente ridículo é a semelhança das três. A direção de arte e figurino faz questão de mostrar o padrão “modelo” exigido às mulheres que desejam trabalhar na TV. Impecáveis, loiras, magras.
Resumindo: “O Escândalo” se apega ao humor para contar uma história que não possui a menor graça.
Com 3 indicações ao Oscar 2020, “O Escândalo” chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 16 de janeiro.