“O Doutrinador” | Entrevista com o diretor Gustavo Bonafé

“O Doutrinador” | Entrevista com o diretor Gustavo Bonafé

Gustavo Bonafé começou sua carreira no audiovisual como assistente em filmes publicitários e videoclipes. Na TV, seu primeiro trabalho veio com a série “O Magnata” (2007), quando foi assistente de direção. Nessa mesma função, participou de episódios de produções como “Alice” (2008), “Destino” (2012) e “E Aí… Comeu?” (2016).

Sua estreia na direção e no cinema aconteceu em 2017, com o lançamento de dois filmes em parceria com o também diretor Johnny Araújo: “Chocante”, uma comédia sobre uma boy band decadente dos anos 90; e “Legalize Já”, a cinebiografia da banda Planet Hemp.

Agora ele assumiu o desafio de levar a saga do anti-herói “O Doutrinador” para o público, seja com o filme, que estreia agora nos cinemas, ou com a série de televisão, que chega ao canal Space em 2019.

Os filmes que você dirigiu antes são de gêneros bem diferentes. Houve dificuldade no processo de “O Doutrinador’?

Tem uma dificuldade que é fazer filme de ação no Brasil. Temos menos experiência nesse quesito, inclusive
em relação a orçamento e possibilidades. No exterior, as produções estão mais à frente nesse aspecto.
Por outro lado, o que é dificuldade também é desafio. É uma maneira de estudar e inventar soluções.
Essa foi uma das coisas mais legais, já na hora em que estávamos fazendo o roteiro: que cenas seriam
possíveis de filmar aqui, com soluções econômicas e interessantes e os recursos que tínhamos? Não
inventamos grandes capotagens de carro ou coisas mirabolantes, pois sabíamos que talvez não fosse
ficar à altura do que o projeto precisava. Lá fora há vários recursos, desde explodir uma maquete até de
fato usar explosivo e fazer a coisa acontecer. Aqui fomos encontrando outras soluções, como trabalhar
bastante na pós-produção. E a pós brasileira é bem boa e está evoluindo cada vez mais.

Você participou do processo de escolha de elenco? Como foi a escolha do Kiko Pissolato?

Participei do processo, tínhamos algumas possibilidades. No caso do Kiko, a escolha foi feita junto com o
canal Space por conta da série. Ficamos felizes com a decisão porque ele tem todos os atributos de
super-herói, além de ser um ator muito legal de trabalhar. Ele adorou o personagem, o sonho da vida dele
era fazer isso. Trabalhou sem o menor receio, se jogou mesmo. Por ele, não usávamos dublê nunca. Foi
um clima legal. Dava até uma insegurança, por responsabilidade nossa, nas cenas de luta. Puxei a rédea
o quanto pude, mas eu ia deixando ele fazer o que pedia. É um cara que tem uma estrutura física para
aguentar as porradas que o Doutrinador tem que levar. Inclusive, ele é formado em Educação Física.
Tiramos a sorte grande com ele, pois, em um projeto como este, é importante ter alguém tão dedicado.

A série e o filme foram filmados simultaneamente. Houve dificuldades nesse equilíbrio?

Filmávamos primeiro um take do filme, aí seguíamos o texto da série. Muitas vezes a mudança do ponto de
vista da câmera acarreta em mudança de luz também, o que causa a perda de alguns takes. Então transitávamos
entre o longa e a série o tempo todo. A dificuldade para o diretor é que a junção entre as cenas muda.
A questão dos planos é um exercício feito duas vezes, um quebra-cabeça um pouco mais complicado. Mas,
novamente, um desafio que pode ser divertido ao aprender a passar por ele.

A fotografia e as cores remetem um pouco aos quadrinhos. Isso foi uma escolha?

Foi. A gente queria dar uma cara parecida com os quadrinhos, sim. Não só para aproximar à HQ, mas
também para criar o planeta onde vive o Doutrinador. A gente quis ir para esse mundo da ficção mesmo, um
pouco menos real do que é comum aqui no Brasil. E quisemos aproveitar alguns enquadramentos incríveis
que o Luciano (Cunha) já tinha desenhado nas revistas e outros enquadramentos mais diferentes, menos
usuais no cinema, o que uma adaptação de HQ permite fazer. .

A série e o filme foram filmados simultaneamente. Houve dificuldades nesse equilíbrio?

O filme é quase uma redução da série. Tem uma ou outra cena em que alteramos um pouco o conteúdo,
e, nesses casos, sim, é um pouquinho mais chato, principalmente para os atores. Por exemplo, filmávamos
primeiro um take do filme, aí seguíamos o texto da série. Muitas vezes a mudança do ponto de vista da
câmera acarreta em mudança de luz também, o que causa a perda de alguns takes. Então transitávamos
entre o longa e a série o tempo todo. A dificuldade para o diretor é que a junção entre as cenas muda. A
questão dos planos é um exercício feito duas vezes, um quebra-cabeça um pouco mais complicado. Mas,
novamente, um desafio que pode ser divertido ao aprender a passar por ele. .

O Miguel tem uma pegada bem violenta. Como você acha que o público vai reagir a isso?

Acho que, na medida em que as pessoas entenderem que estamos falando de um anti-herói fictício, que
está lá para realizar um desejo obscuro dos brasileiros, vão reagir bem. Acho que esse personagem não
foi criado à toa ou gratuitamente. Foi por causa de uma desilusão com a política e uma certa raiva por
parte da população. Nossos governantes, infelizmente, fizeram a gente chegar nesse lugar. Mas tem que
ser visto como uma metáfora. Estamos exorcizando e matando a corrupção de uma maneira, obviamente,
não usual. O certo seria a gente eleger pessoas não corruptas. O Doutrinador vem porque existe esse
desejo. Quem nunca ouviu a frase “tinha que matar todos esses caras”? Quantas pessoas já não sofreram
com medidas equivocadas do governo, como a falta de saúde e educação? Cabe muito ao público entender
que estamos em um mundo fictício, onde tudo é possível. Estamos realizando um desejo, de fato, um
pouco obscuro, mas é um desejo que a população pode ter. Acho que as pessoas têm que se divertir com
isso, não levar ao pé da letra, é ficção. O filme parecer com os quadrinhos é justamente para isso, para
que o filme não seja uma bandeira. Porque a única maneira que a gente tem na nossa vida real para
solucionar isso é votar.

Um anti-herói brasileiro que depois de uma tragédia pessoal decide escolher os maus políticos como objeto
de sua vingança, caçando corruptos independentemente do matiz ideológico. Esse é “O Doutrinador”,
justiceiro criado por Luciano Cunha para os quadrinhos que agora chega às telas de cinema. Num projeto
multiplataforma, o personagem ganha vida através do ator Kiko Pissolato e pelas mãos dos diretores
Gustavo Bonafé e Fabio Mendonça. Além do cinema, “O Doutrinador” vira série a ser exibida no canal
Space em 2019.