Meu nome é Sara | Crítica
“Meu Nome é Sara” conta a história baseada em fatos reais de Sara, uma judia polonesa que tem sua família morta por nazistas quando tem apenas 13 anos. Sozinha, ela é acolhida por uma família ucraniana que não sabe quem a menina realmente é, nem seu verdadeiro nome. O constante clima de tensão permeia a trama enquanto Sara finge ser quem não é e descobre segredos sombrios sobre as pessoas com quem agora convive.
As atrocidades cometidas nos anos da Segunda Guerra Mundial, principalmente contra o povo judeu, já foram abordadas em filme diversas vezes – o mais recente, “Jojo Rabbit” (Taika Waititi, 2019), ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado algumas semanas atrás. “Meu Nome é Sara” faz algo notavelmente diferente da maioria: se concentra não nos atos desumanos em si, mas no efeito psicológico, emocional e social de um clima de paranoia e perseguição imposta à população civil de países como a Polônia e a Ucrânia durante a guerra.
Ao acompanharmos uma judia que conseguiu escapar dos campos de concentração e extermínio, o longa de Steven Oritt possibilita que outras histórias sobre o povo judeu daquela época sejam contadas (a história de quem se escondeu e quem conseguiu mentir para continuar vivo), focando-se num retrato de uma comunidade, que muitas vezes teve que se posicionar no mundo grosseiro e hierarquizado que a invasão nazista impunha.
Tendo escolhido gravar na Polônia, o diretor americano conseguiu recriar o clima e o cenário do leste europeu dos anos 40 e, junto com excelentes atuações – destaque para Zuzanna Surowy (Sara), que traz uma surpreendente performance principalmente para uma menina tão nova – teve êxito em construir um perfeito estado de desespero que sufoca o espectador.
A constante tensão criada pela mentira de Sara é brilhantemente mantida durante o filme todo (abrigar judeus era considerado crime gravíssimo punido com morte, como o filme mostra). Para manter seu segredo, Sara tem que comer carne de porco, recitar Ave Marias e frequentar uma Igreja Católica, participando de rituais como a confissão, além de ter que aturar abusos físicos e demonstrações públicas de preconceito contra judeus, tudo isso negando quem realmente é e o que acredita. Ela tem até que dormir com uma mordaça por medo do que poderia revelar durante o sono – nem em seus sonhos Sara é livre para ser judia.
Sendo o primeiro longa de ficção que Oritt dirige, suas escolhas são muito certeiras – a opressão que a invasão nazista exerce é reforçada pela perspectiva da câmera, como quando Sara é quase descoberta e ao escapar por pouco da situação o ângulo da câmera é expandido revelando enormes bandeiras nazistas desfocadas ao fundo, sendo um enorme símbolo de sua opressão.
“Meu Nome é Sara” é um filme sobre a natureza humana, consegue trazer questionamentos profundos sobre o que o ser humano é capaz de fazer quando movido por preconceito, por desinformação e pelo instinto de sobrevivência. É um soco no estômago, não só porque é bem sucedido em deixar o espectador abalado, mas também porque é uma história com toques biográficos. É um filme que merece a atenção de todos aqueles que se interessam pelo passado, mas que também se preocupam com o presente e com o futuro.
O novo longa da A2 Filmes estreia nos cinemas nesta quinta (27/02).