Jovens Polacas | Crítica

Jovens Polacas | Crítica

“Jovens Polacas” conta a triste história baseada em fatos reais de judias europeias escravizadas sexualmente no Rio de Janeiro no começo do século XX. Essas mulheres foram enganadas e seduzidas a fugir para o Brasil, onde lhes era prometida uma vida mais próspera – o período do entreguerras (1919 – 1939) foi marcado por uma profunda crise financeira que atingiu principalmente o continente europeu.

O filme é livremente inspirado no livro homônimo da historiadora e romancista Esther Largman, relativamente famoso nos círculos acadêmicos brasileiros.

A trama se concentra em alguns personagens centrais, com destaque para Ricardo (Emílio Orciollo Netto), pesquisador que vai atrás da história dessas meretrizes para sua tese de doutorado. No caminho, Ricardo encontra Dona Mira (Jacqueline Laurence), senhora filha de uma polaca (como eram chamadas as prostitutas europeias no Brasil), e tenta investigar suas memórias de infância, apesar de sua resistência e ressentimento em relação às suas origens.

“Jovens Polacas” tem um estilo particular: sua edição envolvente muitas vezes tira o espectador da zona de conforto, por exemplo, exagerando nos closes e intercalando a entrevista de Dona Mira com o violento passado das polacas no Rio de Janeiro, usando as próprias respostas da personagem como narração para os eventos do passado mostrados na tela.

Se o filme tem na edição e na direção seus pontos fortes, o roteiro e as atuações deixam um pouco a desejar (com exceção de Lorena Castanheira que interpreta Sarah, polaca mãe de Mira, que entrega monólogos tocantes, um deles quebrando a quarta parede).

O filme sofre do mesmo mal de inúmeras outras produções nacionais: os diálogos não são convincentes, são artificiais. Mesmo a maior parte da narrativa se passando no submundo da prostituição carioca, em que muitos membros eram estrangeiros (estranho que somente uma prostituta francesa tenha sotaque e erre algumas frases em português), durante todo o filme as personagens estão usando um incômodo e excessivamente perfeito português.

Somando a história trágica, a criatividade da edição, a atuação de Lorena Castanheira e a excelente trilha sonora composta por Ricardo Gomes, “Jovens Polacas” é um filme cativante, apesar do desequilíbrio entre as duas temporalidades do longa: o núcleo das polacas é muito mais interessante do que a rotina de pesquisa de Ricardo.

As atuações e a trama são melhores no passado, em contraste com as cenas interpretadas por Emílio Orciollo Netto e Jacqueline Laurence, que acabam sendo as mais fracas da produção. Assim, o ousado longa de Alex Levy-Heller conta uma história obscura sobre o tráfico humano e a escravização sexual de mulheres estrangeiras, que merece ser tratada como importante capítulo da história do Rio de Janeiro finalmente quebrando um injusto tabu que o tema carrega.

Jovens Polacas chega aos cinemas nesta quinta-feira (26/02).