Já vimos! “Um Ato de Esperança”, com Emma Thompson e Stanley Tucci, chega aos cinemas nesta semana
Até onde a moral ou o imoral pode afetar nossas vidas? O filme de Richard Eyre conta a história da juíza Fiona Maye, em mais um trabalho precioso de Emma Thompson, que vê-se em uma situação complicada ao julgar o caso do menino Adam Henry, menor de idade que sofre com câncer terminal e necessita de transfusão de sangue, mas que se nega a fazê-lo por conta da sua religião.
Baseado no livro homônimo de Ian McEwan, e com argumento feito pelo próprio, seu roteiro traz uma mistura de análises de relações intra e intersociais mostrando os dois lados da moeda, fala-se aqui sobre as decisões internas que uma juíza deve tomar – obviamente humana e passível de emoções e falhas – ou sobre conjunturas sociais de poderes públicos e relações entre religião e sociedade?
Toca também, durante um leve momento, na linha ténue da confusão entre admiração e amor.
A obra flui naturalmente desenvolvendo uma realização primorosa e muito elegante. É possível surpreender-se aos movimentos de câmera não feitos por acaso, oferecendo, assim, a todo tempo, uma nova camada à cena observada pelo espectador.
Os cenários, dentre eles um hospital, uma corte judiciária, um escritório, uma casa e uma rua, sempre são utilizados com maestria e deixam um leve ar oitentista no ar. O que não podemos esquecer de comentar nessa obra são seus atores. Emma Thompson oferece mais uma vez um trabalho cheio de energia e desenvolve sua personagem com excelência de uma maneira interna, contida, forte.
Com uma relação claramente desgastada e infeliz com seu marido Stanley Tucci, a percepção e as reações de Thompson faz-nos repensar quais seriam as nossas próprias caso estivéssemos na mesma conjuntura. É fácil afirmar que o filme pertence a Emma Thompson que aqui oferece um dos seus retratos mais complexos dos últimos anos. Sua personagem é uma pessoa abrasiva, insuflada de poder, mas ciente de obrigações, dever e moralidade.
É grandiosidade divina e humana. Ela é vítima e vilã no seio matrimonial e é objeto de desejo, salvação e renúncia aos olhos da sociedade. Ela é tudo isso e toca todas as notas da sua personagem com a destreza da melhor pianista do mundo.
Quando ela se vai abaixo, é como se o peso do universo nos esmagasse enquanto espectadores do seu suplicio. Quando ela exerce o seu poder, somos amedrontados pela autoridade que ela irradia.
Já Tucci, igualmente a Thompson, nos coloca diante de um Jack Maye com muito potencial para ser mais do que o marido da juíza e professor universitário.
Fionn Whitehead, segundo protagonista da trama, interpreta Adam Henry um inocente recém-chegado ao mundo adulto. Desde o começo, é possível perceber a utilização dos olhos pelo ator para expressar suas diversas fases, evoluções e dissociações, o que enriquece o seu personagem, impedindo-o que se transformasse em mais um adolescente confuso.
Um Ato de Esperança esbanja de uma realização majestosa, com ótimos atores, a obra encontra seu tom, e oferece ao espectador um roteiro perfeitamente costurado e muito bem explorado. É um evento cinematográfico de visionamento mais que obrigatório.