Já vimos! Indicado ao Oscar, “Border” do iraniano Ali Abbasi, chega aos cinemas nesta semana
“Border” é um filme sueco dirigido por Ali Abassi com traços de fantasia devido à natureza de sua personagem principal, Tina (Eva Melander). Tina trabalha na alfândega de um porto de entrada de passageiros vindos de países vizinhos à Suécia. Sua função é identificar pessoas que possam estar transportando algo ilegal, só que diferente de um agente normal, ela não precisa de detectores. Seu super-poder é seu faro. Essa habilidade incomum de farejar culpa, raiva e medo nos passageiros é somente um dos diversos elementos que causam estranheza no espectador ao longo da trama.
Tina mora numa casa no meio do mato e sua relação de proximidade com a natureza é bastante especial. Seu principal passatempo é sair descalça pela floresta, mantendo contato com raposas e alces que não sentem medo dela, diferente dos cães de seu companheiro Roland (Jörgen Thorsson), que ficam nervosos perto de Tina.
Há um outro aspecto bem diferente em Tina: seu rosto possui traços raros, ossos largos, face inchada e dentes grandes. Tal aspecto físico é possivelmente causa de todo um passado de rejeição. Seu único parente é seu pai, que está numa clínica para idosos beirando a perda de memória.
O diretor sugere para o espectador um verdadeiro embate entre repulsa e curiosidade, já que as características misteriosas dos protagonistas envolvem um certo horror corporal capaz de causar reações negativas em alguns. Se por um lado as formas e os hábitos do estranho par podem provocar distanciamento, por um outro a relação entre os dois é de uma sensibilidade magica.
É nesse conflito que encontramos a simbologia do filme e uma possível interpretação extra sobre fronteiras. Mantendo uma paleta de cores frias, sua fotografia é funcional, refletindo não só a ambientação natural, como também o estado de espírito de Tina. E muito enganado está quem achar que as cores frias fazem de Tina uma pessoa triste. O efeito é justamente o contrario.
Border constrói seus personagens com tranquilidade, seus textos são organicamente abordados em uma narrativa expansiva. A dor da busca por validação existencial e a reflexão sobre o que significa ser ou não ser humano são questões que pairam no centro da obra, que desafia a aversão do espectador pela caracterização dos personagens, mas recompensa como uma ótima história.
“Border” do iraniano Ali Abbasi, indicado ao Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado, chega aos cinemas brasileiros no dia 11 de abril.