Fernanda Montenegro é aplaudida de pé e se emociona ao fazer homenagem a Hilda Hilst
Foi com uma apresentação emocionada de Fernanda Montenegro lendo trechos da obra da escritora Hilda Hilst (1930-2004), homenageada desta edição do evento, que a 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começou na noite desta quarta-feira (25).
Com direção de cena de Felipe Hirsch, Fernanda esteve por cerca de meia hora no palco. Passou a maior parte do tempo sentada diante de uma mesa.
Mas, nos minutos finais, levantou-se. A última palavra que declamou foi “delicadeza”. Fez, então, um gesto indicando um abraço e logo as luzes se apagaram.
Quando se acenderam novamente, a atriz foi ovacionada e aplaudida de pé pelo auditório lotado. Com voz embargada, disse: “Maravilhosa Hilda Hilst. Inesgotável Hilda Hilst. Amada Hilda Hilst”.
Antes, havia lido trechos como estes, todos da poesia, da prosa ou de entrevistas de Hilda Hilst:
- “Quero ser lida em profundidade, e não como distração, porque não leio os outros para me distrair, mas para compreender, para me comunicar, não quero ser distraída”;
- “Eu sempre tentei me aproximar do outro, ainda que no decorrer da vida eu tenha tido medo dessa proximidade”;
- “Não é todo mundo que consegue entrar no mundo da poesia”.
Mas o tom não foi só de reverência. Teve risos na plateia (como quando Fernanda leu coisas como “Exército Geriátrico de Extermínio”) e risinhos envergonhados (como quando leu passagens da conhecida vertente pornográfica da produção de Hilda).

‘Mulheres que mudaram a identidade brasileira’
Fernanda Montenegro subiu no palco após falas do arquiteto Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul, responsável pela Flip; da fundadora da Flip, Liz Calder; e de Joselia Aguiar, curadora da festa pelo segundo ano seguido.
Munhoz lembrou que a sessão de abertura da Flip 2018 junta teatro, música e literatura e tem dois atos: primeiro, com Fernanda Montenegro; depois, com a compositora Jocy de Oliveira. Ele lembrou que ambas são da mesma geração de Hilda.
“Em sua atuação artística e política, as mulheres dessa geração mudaram a identidade brasileira”, afirmou ele.
Já Joselia disse que a homengeada da Flip experimentou vários gêneros literários (poesia, prosa, teatro), publicou por editoras pequenas e era conhecida por público restrito. Mas atualmente, uma década e meia após a morte, tem sido cada vez mais assunto de trabalhos acadêmicos e críticas.
A curadora citou casos de pessoas que agora tatuam no corpo versos da autora, falando em “níveis de popularidade inéditos sem deixar de desafiar o leitor”.
Fonte: Portal G1