Exibido em Cannes, “Inocência roubada” chega aos cinemas brasileiros | Leia a crítica

Exibido em Cannes, “Inocência roubada” chega aos cinemas brasileiros | Leia a crítica

Movimentos, formados principalmente por mulheres, começaram a denunciar os abusos e assédios dentro do cinema, provavelmente isso ajudou a possibilitar filmes com narrativas que buscam refletir sobre crimes dessa natureza. É dentro desse contexto que temos “Inocência Roubada“, longa baseado em um texto autobiográfico de Andrea Bescond, que também escreve, dirige e protagoniza a obra.

O longa-metragem gira em torno do fato da protagonista estar reconstruindo, a partir de textos, dança e suas memórias de um passado obscuro. Na obra não existem dúvidas, mas sim um crime e as cicatrizes por ele deixadas.

O ponto inicial do filme se dá quando Odette (Andréa Bescond) resolve procurar ajuda de uma psicóloga e revela as violências sofridas por ela na infância.

Os sentimentos que se constroem a partir das recordações, são executadas de uma forma que beira a perfeição, nos apresentando episódios de um passado, seguidos por intervenções das duas personagens no tempo presente. Isso cria a nós espectador uma sensação de agressão, para depois nos fazer raciocinar.

A reconstrução desse passado tem como objetivo principal mostrar as consequências que o trauma gera em uma pessoa. Conforme a protagonista entra na vida adulta, começa a se tornar instável e autodestrutiva.

Questões como a dificuldade de se socializar e até mesmo a dependência química, são mostrados no longa de forma genial, onde conseguimos sentir na pele tudo o que houve ali.

Algo que também é compartilhado é quando juntamos os principais elementos de “Inocência Roubada“, e vemos que o longa se trata de uma jornada, que parte da superação até a libertação, e é essa a maior importância da obra: nos mostrar que, para iniciarmos a luta contra uma opressão, muitas vezes é necessário engolir o medo e darmos os passos necessários.

Sua narrativa fílmica estabelece um claro diálogo com o teatro, os cortes que ocorrem em várias cenas deixam isso bem claro, o que também dá uma maior velocidade e dinamismo no filme.

A coreografia de passos densos, fortes e firmes deixa evidente o grito, a raiva que a personagem não esconde sentir. Ela é humana, sua presença engole o tempo e espaço.

Aos interessados por este tipo de drama temos aqui um filme bem conduzido e interpretado, que consegue materializar no espectador tudo que ali se mostra.