Entrevista com o diretor Gustavo Ribeiro do curta-metragem brasileiro “Napo”
Depois de circular por mais de 60 festivais mundo afora e sair premiado em 20 deles, o curta-metragem brasileiro “Napo” esteou ontem (28), Dia Internacional da Animação, no canal da produtora Miralumo Films no YouTube. Dirigido por Gustavo Ribeiro, o curta é uma animação para adultos e crianças.
A trama gira em torno de Napo, um senhor de idade que, por conta do agravamento do Alzheimer, vai morar com a filha Lenita e com o neto João. Aos poucos, a doença o fez esquecer todos os que passaram por sua vida. No primeiro contato com o neto, Napo nem o reconhece. Incapaz de compreender a doença que leva seu avô entre o passado e o presente, João encontra uma maneira de criar novas lembranças para o avô. Ao tropeçar em um álbum cheio de velhas fotografias, ele deixa as imagens guiarem sua imaginação e transforma as memórias de seu avô em desenhos. Desenhos que moldam sua relação em uma história de lembrança e construção de memória.
Entrevistamos com exclusividade o diretor de Napo, Gustavo Ribeiro. Confira abaixo o nosso bate-papo.
Como surgiu a ideia de “Napo” e o que inspirou a história?
Gustavo Ribeiro: Esse projeto nasceu em 2014, eu estava no terceiro ano da faculdade de Artes Visuais da UFPR. Na época, minha parceira e produtora, a Thais Peixe, viu que tinha surgido um edital do Estado do Paraná, o Profice. Ele poderia ser nossa chance de fazer nosso primeiro filme. A partir daí, nos juntamos em 4 pessoas para desenvolver essa história: eu, a Thais, a Gabriela Antonia Rosa e o Daniel Freire. Desenvolvemos o roteiro e o que precisava para o projeto e mandamos tudo para o edital. Jamais achamos que ganharíamos. Mas, para nossa surpresa, nós fomos selecionados. Essa vontade de falar sobre o Alzheimer nasceu do meu amigo Daniel Freire. Ele tinha acabado de descobrir que a avó dele tinha Alzheimer e queria falar sobre isso, então foi daí que partiu a ideia do filme.
Qual a principal reflexão que o curta quer passar ao espectador?
Gustavo Ribeiro: A importância de se estar ao lado das pessoas e o papel transformador da nossa presença. João mostra para o espectador que as pessoas não são definidas só pelo passado e por quem elas foram, mas também pelo que elas são hoje. As memórias não precisam ser um monolito gravado no tempo: elas podem ser sensações, cheiros, arte, abraços e carinho.
Quando você dirige um filme, um curta ou outro, como “Napo”, é para criar uma memória para você ou para as pessoas?
Gustavo Ribeiro: Acho que para ambos, se eu faço algo no cinema e quero mostrar isso para outras pessoas, acho que nunca é só para mim. Ao mesmo tempo, é muito difícil, pra mim, falar de temas que não me emocionam profundamente ou que não têm uma conexão com a minha história.
Quais memórias você gostaria de guardar para toda a vida?
Gustavo Ribeiro: O dia em que meu avô me contou um pouco da história dele no sertão, quando criança. Momentos especiais com a minha família e meus amigos — e com certeza as memórias de criação e produção do “Napo”.
O que para você e para sua equipe representa ter apresentado o curta em mais de 60 festivais?
Gustavo Ribeiro: Reconhecimento a muito esforço de um time incrível. E a afirmação de que é possível sim fazer animação do Brasil.
“Napo” ganhou diversos prêmios internacionais, qual a expectativa agora que o curta será lançado para o público em geral?
Gustavo Ribeiro: Eu perdi meu avô para Covid-19 esse ano… Muita gente perdeu parentes para a Covid. Eu espero, de verdade, que ele sirva como uma ferramenta de ajuda no processo de luto para todos que assistirem o filme. “Napo” me ajudou demais a lidar com essa dor.