De “Boas Intenções” o inferno está cheio e o cinema também | Leia a crítica

De “Boas Intenções” o inferno está cheio e o cinema também | Leia a crítica

De boas intenções o inferno esta cheio, já diz o ditado, mas no novo filme de Gilles Legrand, conhecido diretor, essas boas intenções vêm quase todas por Isabelle (Agnès Jaoui). A protagonista, uma mulher rica que se casou com um refugiado Bósnio, leciona francês para imigrantes e procura contrariar todo o sofrimento do mundo, nem que para isso tenha de sacrificar sua vida familiar. Temos aqui mais uma comédia social a invadir os nossos cinemas, uma tendência cada vez mais comum no lado mais comercial do cinema.

O filme “Boas Intenções” distinguem-se das demais porque entre as habituais caricaturas e clichés existe uma verdadeira paródia a uma determinada classe média, totalmente imersa em causas humanitárias, mas que corroí paralelamente todos os relacionamentos em seu redor chegando a ser exageradamente ácida na gênese e razões por trás dessa bondade extrema.

Infelizmente, o filme acaba utilizando o humor em detrimento da mensagem principal que quer passar. Em vez de humanizar seus personagens, os mesmos acabam sendo apenas estereótipos preconceituosos de seus países de origem.

Existe até um nerd brasileiro, cuja representação do que se passa em sua mente consiste num videogame com samba tocando de fundo. Quando ele erra os exercícios da aula, a professora o chama atenção gritando “não estamos em Copacabana!”.

Há alguns personagens do leste europeu que são tratados como se fossem bandidos e prostitutas. E esses são apenas os piores casos, dentre vários outros que são apresentados ao longo da projeção.

O grande problema que temos no filme é que jamais acontece uma redenção, em que os estereótipos seriam subvertidos e outros lados positivos dessas pessoas fossem mostrados. Por essa falta, não ocorre um balanceamento, e o filme acaba reforçando percepções negativas sobre estrangeiros, em vez de ajudar.

Uma pessoa preconceituosa poderia muito bem assistir esse filme e sair com sua visão inalterada, crendo que os imigrantes não passam de más pessoas, que usam de métodos ilegais para conseguir o que querem. Só que isso não funciona porque seu humor é falho diversos momentos. E nos poucos momentos onde ele funciona, qualquer pessoa com o mínimo de discernimento se sentirá mal de rir de piadas que são feitas em detrimento de outros em desvantagem. Ainda mais envolvendo questões tão delicadas.

Um filme desse em nosso cenário atual presta um grande desserviço, em meio ao grande fluxo de refugiados na Europa. Desperdiçando varias chance de usar sua crítica como ponto de partida para uma mensagem reparadora, “Boas Intenções” acaba sendo uma grande decepção.

Com certeza ele teve a pretensão de passar uma ideia positiva., porém, dada a sua execução extremamente fraca, resultou apenas em um filme e péssimo gosto.