Crítica: Maria Fernanda Cândido está em cartaz nos cinemas com “Bio – Construindo uma Vida”
“Bio – Construindo uma Vida”, o novo filme de Carlos Gerbase, que começou, em 1979 com o curta-metragem “Meu Primo”, depois com “Intolerância”, “Sal de Prata”, “Menos Que Nada”, também foi roteirista dos seriados televisivos “Memorial de Maria Moura” e “Engraçadinha: Seus Amores e Seus Pecados” é uma ode à vida humana.
É a trajetória de uma existência que se desenvolve pelo contato com outros seres. Sua narrativa, de falso documentário, quebra a própria estrutura ao inserir intervenções por ruídos e falas transmutadas e reconstituídas por depoimentos monólogos de quarenta atores que exercitam seus ofícios interpretativos, com domínio absoluto em verdades encenadas e abduzidas pelo roteiro perspicaz, de sagacidade sarcástica, de ritmo cadenciado, de química impecável, de precisão cirúrgica e de inocente ingenuidade confessional.
No elenco podemos destacar Marco Ricca, Sheron Menezes, Maria Fernanda Cândido, Maitê Proença, Tainá Müller, Werner Shünemann e Bruno Torres. Todos totalmente certeiros, espontâneos, naturalistas e realistas. Não vemos atores e atrizes e, sim personagens que são e não que tentam ser.
Nascido em 1959 e morto na década de 70, um homem tem uma patologia especial que não o permite mentir. Depois de sua morte, amigos e membros de sua família se reúnem para relembrar datas especiais pelos quais passaram juntos e que montam um interessante retrato da biografia do mesmo.
Integrante do Festival do Rio 2017, o documentário é um épico da nostalgia do passado à ficção científica da era futura. É um exercício despretensioso e simples, sem ser simplista. Pelo contrário, a condução prende o espectador pelo bem mais precioso, essencial e intrínseco do cinema: a curiosidade. É uma obra que se permitiu descobrir quereres, desejos, limites, adaptações temporais, gostos, tudo isso o revestindo de conhecimento de suas livres vivências.
Com casamentos, filhos, netos, prostitutas, padres, roubando “coração” de pessoas e sendo “abandonado”. Cada um de seus atores e atrizes interpretam com corpo, alma, gestos, reflexos, silêncios e olhares que transmitem visualmente os mais íntimos sentimentos personificados.
Cada um “empresta” suas sensações, pretensões e referências da forma mais sincera possível. “Bio”, que venceu três prêmios no Festival de Cinema de Gramado 2017, é uma poesia coloquial.
A trama é entremeada e conexa com as pessoas que fizeram parte da existência de seu “homenageado”. Sim, é um álbum póstumo de família. Tanto a biológica, quanto a do acaso.
Temos aqui um documentário que impressiona e encanta pela interpretação e pelo controle absoluto de sua direção e de seu roteiro impecável.É uma obra poética e esperançosa.
A imperdível obra está nos cinemas desde o dia 04 de abril.