Crescimento do cinema de animação no Brasil se reflete em Gramado

Crescimento do cinema de animação no Brasil se reflete em Gramado

A 46ª edição do Festival de Gramado tem quatro animações concorrendo aos Kikitos nas principais mostras competitivas. Além dos curtas “Plantae”, de Guilherme Gehr, “Guaxuma” de Nara Normande e “Torre” de Nádia Mangolini, o novo longa-metragem de Otto Guerra, “A Cidade dos Piratas”, foi exibido no Palácio dos Festivais neste sábado, 24, encerrando as projeções dos filmes em competição. Na Mostra Gaúcha de curtas também houve desenhos animados concorrentes, e o homenageado do ano com o Troféu Eduardo Abelin, Carlos Saldanha, é um cineasta consagrado por desenhos animados como “A Era do Gelo”, “Rio” e “O Touro Ferdinando”.

O volume de produções exibidas e da homenagem é reflexo do crescimento exponencial da indústria de animação no Brasil nos últimos anos. “Nesse momento estão sendo produzidos 25 longas de animação no país, uma coisa impensável uns anos atrás”, celebra o diretor Otto Guerra.

Resultado de imagem para Torre” de Nádia Mangolini
“A Torre” de Nádia Mangolini (Divulgação)

O desenvolvimento tecnológico teve papel central nesse cenário, conforme explica Andrés Lieban, sócio-diretor do estúdio 2D LAB, produtora carioca responsável por sucessos como o infantil “Meu AmigãoZão”. “Antes eram só os pioneiros, que estavam principalmente no cinema. Em 1985 houve uma safra de animações brasileiras maior do que de todos os outros anos anteriores. Mais recentemente, veio a possibilidade de os animadores construírem sozinhos os seus filmes, distribuindo pela internet, o que fez a animação chegar a mais lugares sem depender do cinema ou TV”, compara.

Resultado de imagem para Meu AmigãoZão
Cena da animação “Meu AmigãoZão” (Divulgação/Discovery kids)

 

É o caso de “Plantae”, de Guilherme Gehr, que aborda a temática ambientalista através da crítica ao desmatamento. Ele fez tudo no filme, à exceção da produção de som, demonstrando a viabilidade de projetos mais enxutos de animação. “É um filme que atinge todos os públicos e estar em Gramado é uma boa oportunidade para debater”, ressalta.

Outro elemento importante no desenvolvimento da indústria de animação são os incentivos governamentais. “O grosso da animação nacional aconteceu nos últimos 20 anos. Só a partir dos anos 2000 que a gente teve esse boom gigantesco, muito por conta das políticas públicas mais voltadas para animação”, aponta Gabriel Carneiro, co-organizador do livro “Animação Brasileira: 100 Filmes Essenciais”, que ganhou sessão de autógrafos em Gramado depois de ter passado por grandes festivais do gênero, como o Aneccy, na França e o Anima Mundi, no Brasil.

Produzido pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) em parceria com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) e o Canal Brasil, o livro foi feito em tempo recorde, em apenas seis meses desde a sua fase de pesquisa e seleção das obras, até sua finalização.

O presidente da Abraccine, Paulo Henrique Silva, que é também co-organizador do livro, defende a importância do lançamento: “A bibliografia a respeito da técnica é muito escassa e então sempre existe essa ânsia de ser um livro que fale da história da animação nacional. A gente percebe que a recepção tem sido muito boa por conta desse cenário”, observa.

Resultado de imagem para a cidade dos piratas otto guerra
Diretor Otto Guerra (MARCELO G. RIBEIRO/JC)

 

Gramado como trampolim

Otto é um dos realizadores mais expressivos da animação brasileira. Sua produtora, a Otto Desenhos Animados, completou 40 anos em 2018, e no ano passado ele foi homenageado em Gramado com o troféu Eduardo Abelin, um prêmio que coroou uma longa história que começou com o seu primeiro filme, “O Natal do Burrinho”, ainda nos anos 80, que foi premiado no festival.

“Gramado para a Otto Desenhos, e para todo o cinema do Rio Grande do Sul, tem fundamental importância, por ser um lugar onde as pessoas se encontram sempre”, defende o cineasta.

O seu novo filme, “A Cidade dos Piratas”, que conta a história de um diretor de cinema que está com dificuldades na realização de seu novo filme, é a única animação da mostra competitiva de longas-metragens brasileiros. “Eu esperei para lançar em Gramado porque esse festival é uma vitrine para mim. O que acontecer aqui vai determinar muito do que vai acontecer depois com o filme”, aposta.

Com isso, o Festival de Gramado demonstra que depois de 101 anos de animação no Brasil, os filmes desse formato têm ganhado relevância e espaço no mercado e em festivais, participando de mostras competitivas pelo mundo todo, lado a lado de filmes live-action.“Hoje a gente pode dizer que existe um tipo de animação brasileira, com a cara do país e que leva brasilidade para outros lugares do mundo.”, comemora Paulo Henrique Silva.