Confira a entrevista com Neil Jordan, diretor de “Obsessão” que está em cartaz nos cinemas!
O aclamado cineasta Neil Jordan dirige a lenda do cinema francês, Isabelle Huppert, e a estrela de Hollywood, Chloë Grace Moretz, no thriller psicológico “Obsessão“.
Depois de encontrar uma bolsa abandonada no metrô, Frances McCullen (Moretz) sai em busca do proprietário para poder devolvê-la. É um ato de bondade, que terá um impacto profundo em sua vida. Ela encontra a dona e entrega a bolsa para a encantadora e excêntrica Greta Hideg (Huppert), que a convida para entrar. Frances recentemente perdeu a mãe e ainda está de luto, e Greta revela que está distante de sua filha. Contra o conselho de sua melhor amiga Erica, Frances cria uma amizade com a viúva solitária. Mas as coisas não são como parecem e a vulnerável Frances se coloca em grave perigo.
“Recebi o roteiro de Ray Wright e achei intrigante a simplicidade do gancho da história: a bolsa e o relacionamento que começa aparentemente docemente e se torna monstruoso”, diz Jordan.
“Achei muito intrigante a possibilidade de um encontro que poderia ser enriquecedor e reconfortante, mas que acaba sendo exatamente o oposto. Greta é bastante solitária. O que eu achei intrigante foi o jeito que a solidão e uma espécie de senso distorcido de maternidade levam à insanidade”.
Jordan é admirador do trabalho de Huppert há tempos e ficou compreensivelmente encantado quando ela concordou em assumir o papel de Greta. “Eu amo tudo o que ela já fez, desde que era uma jovem ingênua de rosto sardento“, diz ele. “Ela é maravilhosa. Para mim, foi um encontro entre a Europa – você sabe, a complexidade e a psicose europeia – e a aparente inocência americana. Então, para mim, escolher Isabelle, que é provavelmente a maior atriz de sua geração, e ter esse conflito entre essas duas culturas, foi incrível”.
“Encontrar uma atriz americana perfeita para atuar ao lado de Huppert e incorporar a inocência americana contra a complexidade europeia foi crucial”, diz ele.
“Chloë foi ótima. Ela é uma atriz maravilhosa”, afirma Jordan. “Ela é um pouco como Jodie Foster; ela está atuando desde os seis anos de idade ou algo assim. Eu suponho que a maioria das pessoas a conheça através de Kick-Ass, mas ela é alguém com um alcance notável”.
“Ela realmente se jogou nisso, e eu acho que ela é alguém que realmente não teve a oportunidade de fazer isso antes. Eu não vi O Mau Exemplo de Cameron Post. Mas esta foi uma oportunidade, porque a Chloë é dona do filme, não é?“
“Foi ótimo vê-la ter um papel que não foi um remake. Eu vi o remake de Deixe-me Entrar, e ela foi muito bem, mas eu senti que foi uma pena ela estar na camisa de força do filme de outra pessoa. Então, neste caso, ela teve a liberdade de ser ela mesma e inventar o personagem do zero”.
Greta constantemente subverte as expectativas do público. No começo, Greta parece uma mulher enigmática e solitária que está desesperada para encontrar uma amiga. Mas quando Frances começa a ignorar seus telefonemas, ela começa a perseguir a mulher mais jovem.
“Bem, isso foi outra coisa intrigante“, diz Jordan. “Normalmente, nesse tipo de filme de perseguição obsessiva, os personagens são um homem e uma mulher. Isso poderia acontecer? Eu não sei. Eu não acho que alguém seria seduzido dessa forma por um homem. Frances está sentindo falta de sua mãe. Ela está em estado de luto. Mas a história era sobre, como qualquer encontro aleatório, pode levar a uma versão do céu ou do inferno”.
“Atrás de cada pessoa, você não sabe se há um psicopata ou um anjo. É por isso que eu fiz o filme e é sobre isso que eu pensei que o filme era, e achei que realmente valesse a pena examinar e entrar nesse assunto”.
Jordan nasceu em County Sligo, na Irlanda e começou sua carreira como escritor, publicou sua primeira coleção de histórias, Night in Tunisia, em 1976. Em 1982, ele escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem, Angel. Também dirigiu: A Companhia dos Lobos, Mona Lisa, Entrevista com o Vampiro, Michael Collins – O Preço da Liberdade, Fim de Caso, Café da Manhã em Plutão, Valente, Ondine e Byzantium – Uma Vida Eterna.
Ele ganhou inúmeros prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Roteiro Original, em 1993, por Traídos pelo Desejo.
“Obsessão“ também é estrelado por Maika Monroe como a melhor amiga e colega de quarto de Frances, Erica; Stephen Rea é um detetive particular e Colm Feore interpreta o pai de Frances.
Confira a entrevista na íntegra com o cineasta:
Como Obsessão começou para você?
Recebi o roteiro de Ray Wright e achei intrigante a simplicidade do gancho da história: a bolsa e o relacionamento que começa aparentemente docemente e se torna monstruoso. Achei-o muito intrigante. Quando coloquei minhas mãos nele não havia música envolvida, e o personagem era húngaro, mas a história básica estava lá. Passei algum tempo com o roteiro e o modifiquei. Isabelle Huppert estava interessada, Chloë Grace Moretz e Maika Monroe também. Eu reescrevi muitas vezes o personagem central de Greta.
Você reescreveu o personagem de Greta quando soube que Isabelle o faria?
Ah totalmente. Há todas essas pretensões francesas. Esses são todos os elementos que eu introduzi ao personagem. Achei muito intrigante a possibilidade de um encontro que poderia ser enriquecedor e reconfortante, mas que acaba sendo exatamente o oposto. Greta é bastante solitária. O que eu achei intrigante foi o jeito que a solidão e uma espécie de senso distorcido de maternidade levam à insanidade.
Greta era uma professora de piano no roteiro original?
Não, não havia nada sobre música no roteiro original. Eu introduzi isso.
Isso foi uma referência ao filme de Michael Haneke: A Professora de Piano?
Oh não, não tem nada a ver com isso. De modo nenhum. Eu só queria fazer uma linda música realmente abominável (risos). Há algo de repugnante em alguns desses padrões clássicos – particularmente “Liebestraum”. Você sabe, é um dos clássicos pop, de certa forma. Eu queria que fosse tão doce como está escrito no começo e que, gradualmente, por meio da repetição, se tornasse algo que é indutor de vômito. Não teve nada a ver com o filme de Haneke, que na verdade eu não vi.
O que o fez querer Isabelle para o papel de Greta?
Eu amo tudo o que ela já fez, desde que era uma jovem ingênua de rosto sardento. Ela é maravilhosa. Para mim, foi um encontro entre a Europa – você sabe, a complexidade e a psicose europeia – e a aparente inocência americana. Então, para mim, escolher Isabelle, que é provavelmente a maior atriz de sua geração, e ter esse conflito entre essas duas culturas foi incrível.
Você acha que esse tipo de relacionamento só poderia acontecer entre duas mulheres?
Bem, isso foi outra coisa intrigante. Normalmente, nesse tipo de filme de perseguição obsessiva, os personagens são um homem e uma mulher. Isso poderia acontecer? Eu não sei. Eu não acho que alguém seria tão seduzido por um homem. Frances está sentindo falta de sua mãe. Ela está em estado de luto. Mas a história realmente era sobre como qualquer encontro aleatório pode levar a uma versão do céu ou do inferno. Atrás de cada pessoa, você não sabe se há um psicopata ou um anjo. É por isso que eu fiz o filme e é sobre isso que eu pensei que o filme era, e achei que realmente valesse a pena examinar e entrar nesse assunto.
Você já teve encontros que azedaram dessa maneira?
Quando você percebe que está falando com um psicopata? Cujo senso do mundo normal é completamente desordenado e que consegue disfarçá-lo? Claro que tive. Eu fiz amizades nas quais você percebe que está falando com um maluco total que está apontando uma arma para sua cara.
Sério?
Sim, há anos. Foi uma arma teatral, mas eu não percebi isso na época (risos). Se você abre sua guarda para os outros, haverá sempre o potencial de monstruosidade entrando em sua vida. É o que Erica diz constantemente para sua amiga. Você não pode simplesmente convidar aleatoriedade para o seu mundo. É uma lição triste, não é? Para mim, foi uma oportunidade para explorar as horríveis possibilidades das pessoas em uma espécie de sentido hitchcockiano, e o fato de acontecer entre três mulheres é realmente intrigante. Há muitos filmes de terror no momento, e eles lidam com o sobrenatural, com fantasmas ou monstros, mas para mim o que foi realmente intrigante, foi que basicamente era um filme de terror, mas a fonte do horror é o isolamento humano. Não há elementos paranormais na história, mas pode ser tão aterrorizante quanto qualquer outra coisa.
Como foi explorar isso com uma atriz como Isabelle?
É ótimo explorar esse tipo de patologia com alguém tão importante quanto Isabelle, porque desde o início sua personagem já está formada. Ela atuou muito silenciosamente, e ela é aquele tipo de atriz maravilhosa que faz pequenas coisas que realmente têm ressonância.
Conte-me sobre a cena em que Isabelle dança enquanto está fazendo uma coisa particularmente horrível …
É um absurdo, eu sei. Eu disse a ela: ‘Vamos fazer esse assassinato, mas vamos fazer isso com uma música de Chopin. Nós vamos fazer isso como uma dança’. E eu disse a ela: ‘Você está pronta para isso?’ E é claro que ela estava. Quero dizer, muitos atores hesitariam com essa ideia, porque é meio cômico, estranho, mas ela simplesmente fez isso tão bem. Ela pode fazer isso e pode usar seu potencial cômico para ser ainda mais sinistra, de uma maneira estranha. Mas ela veio com seu personagem totalmente formado. Das duas primeiras cenas que filmamos, você conhecia todo o espectro, desde a inocência até psicopatologia, tudo estava lá.
Como foi trabalhar com a Chloë?
Chloë foi ótima. Ela é uma atriz maravilhosa. Ela é um pouco como Jodie Foster; ela está atuando desde os seis anos de idade ou algo assim. Eu suponho que a maioria das pessoas a conhece através de Kick-Ass, mas ela é alguém com um alcance notável. Ela realmente se jogou nisso, e eu acho que ela é alguém que realmente não teve a oportunidade de fazer isso antes. Eu não vi O Mau Exemplo de Cameron Post. Mas esta foi uma oportunidade, porque a Chloë é dona do filme, não é? Foi ótimo vê-la ter um papel que não foi um remake. Eu vi o remake de Deixe-me Entrar, e ela foi muito bem, mas eu senti que foi uma pena ela estar na camisa de força do filme de outra pessoa. Então, neste caso, ela teve a liberdade de ser ela mesma e inventar o personagem do zero.
Este é seu primeiro longa-metragem em seis anos. Por quê?
Eu fiz uma série de TV chamada Os Borgias, e eu estava escrevendo romances, então este é o primeiro filme que eu fiz depois de seis anos. Outras coisas ficaram no caminho. Está se tornando cada vez mais difícil fazer filmes independentes, e leva mais e mais tempo para virarem realidade. Não é como quando eu comecei a fazer filmes, onde você escrevia um roteiro e o realizava em seis meses. Isso não acontece nos dias de hoje.