“Black Mirror: Bandersnatch”

“Black Mirror: Bandersnatch”

“Quantas vezes você viu o Pac-Man morrer? Ele não se incomoda. Ele apenas tenta de novo”

O novo episódio / filme de “Black Mirror” traz um jovem e promissor programador de vídeo games, Stefan Butler (Fionn Whitehead) em meio a um projeto ambicioso: desenvolver um jogo baseado no livro Bandersnatch, cujo autor enlouqueceu após escrevê-lo. O livro é interativo e traz várias possibilidades de caminhos e finais, de acordo com as escolhas de quem o lê… e assim a série também é desenvolvida, ou aparentemente é.

Black Mirror: Bandersnatch” dá uma falsa ilusão de que você, o espectador, está no controle das ações do personagem principal. Ao escolher, por exemplo, qual fita k7 Stefan irá ouvir na sua viagem de ônibus – logo no começo – irá apenas mudar uma breve fala na resposta do mesmo lá para frente, quando ele é perguntado sobre qual música gosta de ouvir por Colin Ritman (Will Poulter), um prodígio no desenvolvimento de jogos e adora por Stefan.  Porém, quando você é obrigado a decidir se Stefan aceita ou não o emprego oferecido por Mohan Thakur (Asim Chaudhry) na empresa de jogos dele, a Tuckersoft; tal decisão irá te remeter a uma série de outros caminhos pela frente; mas no final das contas irá fazer com que você volte ao ponto de partida, caso tenha feito a escolha errada.

Fionn Whitehead in Black Mirror: Bandersnatch (2018)

Isso ocorre em vários momentos, por isso o termo “falsa ilusão” de estar no controle é aplicável. As decisões que você, como espectador, vai tomando ao longo do filme, muda a rotina do personagem principal e também afeta os que estão ao seu redor; porém , você retorna do ponto de partida quando faz uma escolha errada. Sim, há erros e acertos nas decisões.

Fionn Whitehead in Black Mirror: Bandersnatch (2018)

Quando Stefan compartilha com a sua psiquiatra, a Dra. Haynes (Alice Lowe), sobre sentir que não está mais no controle das decisões que toma e que alguém externo as toma por ele, também aqui somos “enganados” de propósito pelo filme. Não estamos também no controle das decisões. Se isso é bom ou ruim, cabe a cada um analisar; fato é que para mim, me deixou um pouco frustrado. Caso eu, como espectador, não aceite a escolha tida como “certa” pelos criadores de “Black Mirror: Bandersnatch” serei obrigado a sempre retornar ao ponto zero, como um looping contínuo ou encerrar minha experiência dali mesmo.

Will Poulter in Black Mirror: Bandersnatch (2018)

O filme pode ter pouco mais de um hora de duração, como também levar mais de três horas para que se conclua, vai depender das escolhas que você faz para Stefan e também da paciência que terá de retornar do ponto de partida.

Há cenas que talvez você não irá ver, como por exemplo de saber o que teria ocorrido com a mãe de Stefan; apesar de em um determinado momento você ser praticamente coagido a fazer essa escolha. O próprio diretor do longa da NetflixDavid Slate, afirmou que existe uma cena em que não é acessível, tamanha é a complexidade das escolhas para se chegar a ela. Marketing ou verdade?

O fato é que “Black Mirror: Bandersnatch” tenta ser envolvente, curioso e dinâmico ao apostar nesta interação com quem assiste, lembrando muito a jogos como “The Last of Us“; mas que acaba entregando um produto em que a sensação é sempre incompleta.

Fionn Whitehead in Black Mirror: Bandersnatch (2018)

É notório o esforço da metalinguagem existente em “Bandersnatch” e as diversas referências com outros episódios de “Black Mirror“. Destaque também para o ator Will Poulter com o seu personagem Colin Ritman, que merece um melhor desenvolvimento em algum outro episódio de uma futura temporada da série; porém “Black Mirror: Bandersnatch” é uma experiência extremamente particular em que muitos irão estar satisfeitos com toda a ‘jogabilidade’ do projeto, mas tantos outros não.

Típico exemplo de que a teoria é melhor aplicada do que a prática.

https://www.youtube.com/watch?v=rnrCdi53G7A