“Bixa Travesty” | Crítica
A impecável sincronização do corpo de Linn da Quebrada é política, desprovida de limites e pudores, suas ideias são 100% afinadas. Quando ela diz: “Sou a nova Eva, filha das travas, obra das trevas“, isso é o suficiente para entendermos como opera seu cotidiano. Sua realidade é tão intensa que até seu câncer perdeu força de expressão, tornando o hospital em um cenário para sua arte.
A criação da rádio foi uma ideia incrível para se evitar o clichê de depoimentos, deixando sua narrativa coesa e linear. Linn é válida, pertinente, inteligente e não cansa, além de orquestrar bem para todas as camadas sociais, seja de forma educativa, empoderadora ou reflexiva.
Seus 75 minutos de filme em “Bixa Travesty” foram bem dosados com reflexões bem humanizadas, enaltecendo uma pura delicadeza de caráter e feminismo; sentimentos ali são construídos organicamente com sua mãe e amigos; e claro um mix composto de seu repertório musical.
“Bixa Travesty” expressa uma visão mais ancorada na telonas, que busca tratar a câmera como algo invisível naquele cenário. Essa postura é totalmente eficaz nos momentos mais íntimos, como quando a protagonista toma banho com sua mãe, ou quando compartilha um momento romântico com seu par, isso faz com que essas cenas sejam genuínas.
Linn é arma revolucionária, transgressora, desbocada, performática. Esta é a Linn da Quebrada, personagem principal de um documentário essencialmente político.
“Pelo medo de não pertencer, eu inventei um lugar para mim mesma. Para que eu pertencesse, pelo menos, a mim. Um lugar que me coubesse. Mas também é temporário, não quer dizer que vou caber aqui para sempre”. É assim que Linn da Quebrada explica ao espectador o significado de “Bixa Travesty“.
Sua obra é humanamente roteirizada e não fictícia. O documentário é militante e ainda nos presenteia com diversos prazeres, por exemplo, a saga pela busca da luva de Ney Matogrosso.
“Bixa Travesty” nos deu orgulho e preencheu todas as lacunas de aexpectativa de fãs da cantora, cinéfilos e colegas dos premiados diretores Kiko Goifman e Claudia Priscilla.
Confira os cinemas em que o documentário está em cartaz: