“As Loucuras de Rose” | Crítica
“As Loucuras de Rose” (“Wild Rose“) é um filme que surge de uma estratégia arriscada. A obra acredita que sua atriz principal é um personagem tão encantadora e necessária ao ponto de quem assiste estar disposto a ignorar as seus inúmeros defeitos.
Desde o início, Rose (Jessie Buckley) está saindo da prisão da forma mais feliz que o cinema já retratou, onde as outras prisioneiras a defendiam e os guardas a amavam. Canta, passeia, e chega até a casa do ex-namorado onde também é muito bem recebida.
No restaurante onde trabalhava, a expulsam, mas nada importa. Rose não é uma personagem qualquer. O mundo existe em função de Rose, e gira ao seu redor.
Os coadjuvantes vivem em função da protagonista e deixam de ter uma vida normal e em paz quando a mesma não se encontra em cena. O mais interessante é o fato de todos dedicarem suas vidas e seu dinheiro à uma pessoa que não trata ninguém bem. Ela engana a todos, porém sempre com um sorriso falso no rosto, enquanto canta alguma música country.
A relação entre Rose e o mundo soa um tanto abusiva. O diretor Tom Harper se esforça em mostrar uma atmosfera dentro dos moldes de um drama, focando nos dias cinzentos de Glasgow, em seus pequenos apartamentos do subúrbio.
A apresentação da vida desprivilegiada é comum na narrativa da obra, ou seja quanto mais baixo sair a nova estrela musical, mais espetacular parecerá sua escalada rumo ao sucesso.
O filme “Loucuras de Rose” passeia entre a comédia e o drama, entre a espontaneidade incontrolável da protagonista e o caráter dos personagens ao redor. A cada nova chance de que o sonho de se tornar cantora se tornará realidade, algum obstáculo da vida a conduzirá novamente às mesmas condições de desempregada e ex-presidiária.
A cantora convive com a mãe (Julie Walters), a avó responsável e trabalhadora e com a patroa da casa onde faz faxina (Sophie Okonedo). Na ausência de figuras masculinas, são as mulheres que administram a periferia escocesa onde vivem.
Infelizmente, o resultado do sucesso da cantora é sempre prejudicado, devido à dificuldade de conciliar vida profissional e vida familiar. A narrativa se articula através das impossibilidades de ser bem-sucedida.
Na vontade de criar um filme sobre a força e a capacidade das mulheres, o drama ainda se atém à visão arcaica da dupla responsabilidade feminina irreconciliável.
Mesmo com toda a ajuda e conspiração do mundo ao redor, Rose sofre com o peso de ser mãe e artista ao mesmo tempo.
O desfecho carrega o otimismo que se espera, que começa e termina com melodias e sorrisos sem estragar os motivos pelos quais é conhecido e quase atingindo um bom resultado.