Ao 98 anos morre Ruth de Souza, a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do RJ
Em 1945 estreava nos palcos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro a atriz Ruth de Souza e era também a primeira vez que uma atriz negra pisava nesse palco. Mais de 70 anos depois, o Theatro da Praça Floriano no Rio recebeu novamente a grande atriz que quebrou inúmeras barreiras.
Com atuações no teatro e cinema, ela foi contratada da TV Globo por mais de 50 anos, onde atuou em mais de 30 novelas, tais como “O Bem-Amado” (1973), “Helena” (1975), “Sinhá Moça” —primeira e segunda versões (1986 e 2006)— e “Memorial de Maria Moura” (1994).
Neste ano, ela foi homenageada pela escola de samba Santa Cruz, no desfile da Série A do Carnaval do Rio.
O último trabalho dela na TV Globo foi na minissérie “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, também em 2019.
A estreia no cinema aconteceu em 1948, por indicação de Jorge Amado (1912-2001), quando a atriz fora escalada junto com os já consagrados Grande Otelo (1915-1993) e Anselmo Duarte (1920-2009) para o elenco de “Terra Violenta”, uma adaptação da obra do escritor baiano produzida pela Atlântida Cinematográfica.
No filme “Sinhá Moça” (1953), como coadjuvante, foi indicada ao prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza, concorrendo com as internacionais Katharine Hepburn (1907-2003), Michèle Morgan (1920-2016) e a vencedora Lilli Palmer (1914-1986), para quem perdeu o prêmio por pouca diferença.
Perseguida pelo racismo, Ruth de Souza costuma dizer em entrevistas que sempre teve que brigar muito por bons papeis ao longo de seus mais de 70 anos de interpretações. Mas agradece constantemente aos autores Janete Clair (1925-1983) e Dias Gomes (1922-1999) pela possibilidade que proporcionaram a ela de representar personagens de maior relevância na TV.
Em 2016, Ruth de Souza foi homenageada na mostra “Pérola Negra”, que ficou em cartaz no CCBB de Brasília e de São Paulo, onde foram exibidos 25 de seus trabalhos mais marcantes.