“A Cabana” – Crítica
O filme “A Cabana” estreia amanhã nos cinemas, 06/04, já assistimos e contamos tudo agora. O longa é uma adaptação do best-seller de William P. Young, que vendeu mais de 18 milhões de cópias no mundo, sendo mais de 4 milhões no Brasil. O enredo gira em torno de de Mack (Sam Worthington), um homem que está em luto após o sequestro de sua filha. Todos os indícios apontam que ela foi brutalmente assassinada em uma cabana abandonada. Mack recebe então um bilhete, aparentemente escrito por Deus (Octavia Spencer), o convidando para retornar a cabana, e essa decisão muda o rumo de sua vida. A direção é de Stuart Hazeldine e o roteiro é adaptado por John Fusco. “A Cabana” é um dos filmes mais esperados de 2017, muito em função da quantidade de leitores e fãs que carregou desde o lançamento do livro em 2007. Adaptações costumam ser sinal de problema, e são raras as vezes em que o filme supera o livro, “A Cabana” infelizmente não chegou nem perto. O filme tenta de alguma forma se apegar nos principais acontecimentos do livro, mudando uma coisa aqui e outra acolá, o problema é que tudo parece muito caracterizado e teatral, perdendo um pouco a naturalidade que se esperava de um livro tão tocante e emocionante. O filme tem um toque religioso um pouco menor do que o livro. Ele até tenta induzir que o único caminho para superar tudo é ser cristão, mas não claramente, deixando um Deus mais humano, sensível, próximo de todos, seja do homem bom ou do mal. Emoção talvez seja o ponto principal em que o diretor e os produtores focaram, aparentemente até deixando o enredo em si um pouco de lado. Essa escolha de emocionar o público talvez fosse um ponto alto, o problema é que forçar todos a chorarem acaba irritando em alguns momentos e cansando. A trilha sonora quer te fazer chorar, as frases de efeito, a insistência nos diálogos carregados, e você pode até chorar mesmo, mas não com naturalidade.
Os personagens são pouco explorados e alguns talvez não fizessem a menor falta se não estivessem lá, como o filho de Mack, Josh, e quem leu o livro sabe que todos têm uma importância fundamental para a construção da história desde a mulher de Mack, até sua filha, Deus, Jesus, o Espírito Santo. Jesus é interpretado por Aviv Alush e é um personagem até divertido, com cenas interessantes, como uma em que eles andam sobre as águas. Um Jesus moderno, jovial, mas que é pouco explorado no filme. Diferente do Espírito Santo que é vivido pela atriz asiática Sumire Matsubara, que apresenta uma atuação insossa e às vezes até irritante pela falta de emoção. Já o protagonista Sam Worthington talvez não tenha sido a melhor escolha para esse filme em especial, suas reações para as cenas dramáticas parecem um tanto quanto forçadas, diríamos até que ele não sabe chorar de fato. Isso é ainda mais perceptível quando você vê Octavia Spencer e Radah Mitchell, em momentos de emoção, um choro mais natural e que rende até ao espectador um sentimento de pena das duas, coisa que é difícil de se criar em torno do personagem de Sam. Faltou carisma ao ator, entender mais o personagem de Mack do livro. Mas isso também não é só culpa dele, mas também do diretor, que aparentemente pouco se preocupou com a profundidade do livro e apostou apenas em uma “história para simplesmente emocionar”. Faltou talvez um pouco mais de cuidado e percepção de Stuart Hazeldine com o enredo complexo do livro e como passar tudo aquilo em cena com um toque mais profundo de tudo. Ficamos aliás desejando bem mais Octavia em cena, que atriz sensacional e mal aproveitada no filme num papel tão importante. Diferente do livro o filme é bem menos profundo, é claro que algumas cenas remetem a acontecimentos do livro, mas de forma bem superficial, com diálogos e reflexões num contexto mais geral. Em contrapartida aos erros, o filme tem uma fotografia muito bonita, com cenas gravadas em Vancouver e uma trilha sonora de destaque com Tim Mcgraw e Faith Hill com a música “Keep Your Eyes on me”. Outro ponto positivo é a atuação de Alice Braga no papel da “Sabedoria”, que talvez tenha protagonizado uma das cenas mais tocantes e um dos diálogos mais marcantes da adaptação. O filme tem ainda um desfecho diferente do apresentado no livro, eles antecipam acontecimentos nas telonas e fecham a história. “A Cabana filme” pode até agradar e emocionar, mas nem de longe é “A Cabana livro”, não que quiséssemos que fosse, mas esperávamos algo com maior zelo e cuidado, e aparentemente emocionar foi a única coisa em que o diretor, produtores e roteiristas se importaram.