“3%” | Análise da Primeira Temporada
Na fórmula futurista em busca de mudanças como os grandes blockbusters dos últimos 5 anos, a primeira aposta nacional da Netflix ousou, investiu e como resultado, produziu algo com conteúdo, pretensioso, com uma mensagem (moral) e uma dura crítica a sociedade num futuro distópico/realista que condiz em partes com estatísticas atuais.
Criado a partir de um “piloto” independente de 2009 lançado no Youtube, que ganhou fãs desde esse princípio, a série apresenta um Brasil pós-apocalíptico, onde a escassez de água, comida e energia predomina na maior parte da população, a unica escapatória da miséria vem de um processo onde jovens de 20 anos fazem testes, físicos e psicológicos, “provando” que de certa forma se encontram dentro do perfil estabelecido para viver no Maralto, lugar cheio de regalias, tecnologia de ponta e uma qualidade de vida imensamente superior, o único detalhe é que ao final de tudo isso apenas 3% passa para a tão sonhada vida de privilégios.
Elenco com figuras já conhecidas pelo grande público e novos talentos que surpreendem positivamente com seu potencial.
Acerta criando uma protagonista feminina forte, com ideias, e uma representatividade negra coerente quanto ao contexto e nítida tanto no elenco principal quanto na figuração, mas falha com determinados estereótipos, padronizando onde poderia ousar.
Uma fotografia intensa e expressiva, variando do estilo “lixo”, com tons escuros e sobreposição de cores fortes e sujas, e um prateado limpo e minimalista num encaixe que harmoniza vibrantemente ao enredo, contrastando a pobreza próximo a miséria a um a estabilidade beirando o luxo.
Peca nesse excesso de “testes” não apenas os que são obrigados a fazer se querem continuar na “disputa” dos 3%, mas sim essa mania manjada e repetitiva de querer insistir em testar os personagens a todo momento e colocando justificativas e consequências chulas, tornando muitas vezes seus resultados previsíveis ao invés de surpreendentes.
Destaque para o episódio 04 onde a referência a obra de Oliver Hirschbiegel, “A Experiencia” de 2002 é nítida, criando uma atmosfera psicologia incrível e consequências inusitadas que lembra muito os principais pontos importantes do filme (que diga-se de passagem é fantástico também #FicaaDica).
Com apenas 8 episódios e uma estética inesperada dadas as constantes produções brasileiras, 3% tem sim seus defeitos, mas a originalidade nacional da produção realmente faz valer a pena assistir.