“Nós” | O que achamos do novo filme do cineasta Jordan Peele de “Corra!”

“Nós” | O que achamos do novo filme do cineasta Jordan Peele de “Corra!”
Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei.” – Jeremias 11:11

Para quem assistiu ao novo filme do cineasta Jordan Peele vai entender o motivo de ter destacado essa citação da bíblia no antigo testamento. “Nós” (“Us“) está nos cinemas brasileiros e merece a sua atenção.

Aqui vai uma breve análise do filme sem spoilers. Clique aqui e veja o final do filme explicado.

(Imagem: Divulgação: Universal Pictures)

O filme acompanha a mãe Adelaide (Lupita Nyong’o), o pai Gabe (Winston Duke) e os filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) passando uma temporada de férias em uma casa antiga da mãe. Porém esse passeio termina em tragédia quando a família é abordada por estranhos invasores que são idênticos a eles.

Até aí, você viu isso nos trailer divulgado que aguçou a ansiedade para com o filme, até porque trata-se da segunda obra do humorista que se tornou um dos mais promissores cineastas da nova geração ao estrear com o incrível “Corra!” (“Get Out“)… e quando muitos pensavam que só foi uma jogada de sorte, enganaram-se profundamente; pois temos aqui outra obra excelente.

(Imagem: Divulgação: Universal Pictures)

A ganhadora do Oscar pela sua atuação em “12 Anos de Escravidão“, Lupita Nyong’o finalmente recebe um papel de protagonista e um filme e arrebenta com uma atuação esplêndida. A expressividade nos olhares e gestos nos leva a toda a tensão exigida na cena.

Shahadi Wright Joseph que interpreta a filha mais velha do casal também se expressa com muita veracidade e, apesar de em algumas vezes entregar deboche, atraindo para um lado mais sarcástico em momento que deveriam ser mais tensos, ela também é grandiosa em todo o filme.

Evan Alex, o filho caçula, também está bom; apesar de não conseguir se expressar tão bem como sua ‘irmã’ e ‘mãe’, porém se torna mais interessante a sua versão mais sombria.

E o pai, Winston Duke, acaba sendo o alívio cômico ao longo da projeção; o que por um lado pode agradar a quem assiste, ao tirar a tensão de determinadas cenas, o que também acaba se tornando um erro na construção desse personagem. São poucas as cenas de tensão e medo que o filme possui com essas pitadas de humor de Winston, porém foram suficientes para me desagradar e não saber se estava ali assistindo a uma comédia ou a um suspense/terror.

(Imagem: Divulgação: Universal Pictures)

O humor também está presente em “Corra!“, porém ele é relegado aos personagens que não estão em perigo iminente; o que não acontece em “Nós“. A experiência poderia ser muito mais satisfatória, se o roteiro conseguisse equilibrar melhor essa dosagem de humor nas cenas de maior tensão.

A experiência com o novo filme de Jordan Peele é extremamente pessoal e divide opiniões; isso porque o longa lhe dá algumas explicações sobre o que tudo está ocorrendo, mas não esclarece tantos outros questionamento que permanecem no ar.

Há muitas questões dessa tal mitologia dos “acorrentados” criada pelo cineasta que não são aprofundadas no filme, o que acaba frustrando um pouco. Apenas a explicação dada por Jordan Peele sobre o que de fato venha a ser essas cópias sombrias não me satisfez por completo.

(Imagem: Divulgação: Universal Pictures)

Por outro lado, é um filme extremamente satisfatório quando inserido no contexto de terror/suspense com excelentes cenas que vão agradar aos fãs de filmes do gênero, além de uma boa dose de cenas slashers.

Outro destaque também é para com todo o trabalho de composição com a trilha sonora e a montagem, com destaque para as cenas finais, além de toda a alegoria embutida nele que faz você criar inúmeras teorias e encontrar significados para cores e elementos de cena embutidos. 

(Imagem: Divulgação: Universal Pictures)

Comparar “Corra!” com “Nós” é insignificante; são duas obras que merecem um olhar atento para a profundidade da crítica social embutidas nelas e são agradáveis produções com suspense e pitadas de humor.  “Corra!” com mais suspense e “Nós” com mais terror.